‘El Cristiano’: canhão paraguaio que Assunção quer de volta pode ser visto de graça em museu do Rio

Artefato é tombado pelo Iphan. Está no acervo do Museu Histórico Nacional desde 1922. Impermeabilização anual ajuda a manter material intacto.

Cariocas podem ver de perto — e de graça — um espólio da Guerra do Paraguai que é alvo de cobiça entre Brasília e Assunção. Trata-se do canhão El Cristiano (na verdade, um obuseiro), que repousa num pátio do Museu Histórico Nacional (MHN), na Praça 15, no Centro do Rio — pelo menos por enquanto.

Uma reportagem da Deutsche Welle republicada pelo g1 mostrou que o recém-empossado presidente paraguaio, o conservador de direita Santiago Peña, manifestou o desejo de repatriar a peça, uma dentre várias que o Brasil tomou após derrotar as tropas de Francisco Solano López na década de 1870.

O obuseiro de 153 anos não homenageia nenhum Cristiano: o nome veio da forja onde o bronze de sinos de igrejas paraguaias foi fundido para virar uma arma — O Cristão, traduzido do espanhol.

É um cristão ferrenho: com 2,94 metros de comprimento e 1,34 metros de largura, pesa 12 toneladas. Ele está marcado com uma inscrição que faz referência à origem: “Da religião ao Estado”.

A briga para que El Cristiano e outros objetos voltem para o Paraguai não começou agora: o governo vizinho reivindica a devolução há mais de uma década, pois considera o canhão como parte importante da memória do país e um símbolo da união de esforços feita durante o conflito.

Obuseiro tombado e apreciado aqui

El Cristiano também é considerado parte da memória do Brasil e é tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A discussão se troféus de guerra devem ser devolvidos envolve várias questões como nacionalismo e ressignificação destes objetos. Entre os especialistas no estudo da Guerra do Paraguai não há consenso.

“É uma peça com uma história rica nesse sentido. De acordo com o nosso levantamento, esse canhão, com características mais próximas de um obuseiro, ocupou o Forte de Curupaiti em um primeiro momento e depois a Bateria Londres, que era a principal fortificação de Humaitá”, afirmou Pedro Heringer, diretor-substituto do Museu Histórico Nacional.

Apesar de fontes da época chamarem o objeto de canhão, trata-se de um obuseiro, projetado para disparar balas ocas. De acordo com os estudiosos, a fundição, as formas e o material permitem supor que ele não suportaria o disparo de grandes balas sólidas, arrebentando antes disso. O artefato seria, na verdade, usado para disparar granadas cheias de pólvora.

No Brasil desde 1870, o canhão fazia parte do Arsenal de Guerra, mais especificamente do Museu Militar. Foi transferido para o Museu Histórico Nacional a partir de sua fundação, em 1922.

Manutenção

No pátio onde está instalado, El Cristiano tem a companhia de outros artefatos de guerra com história rica.

Um deles é um canhão de fabricação inglesa do século 18, do reinado de George III. Outro canhão em exposição é do século 17 e foi deixado no Brasil após a expulsão dos holandeses do Nordeste.

A manutenção de El Cristiano, assim como os outros canhões em exposição, conta com ações diárias e uma maior anual, que conta com higienização e impermeabilização dos equipamentos.

Para quem quiser conferir de perto El Cristiano e outras atrações, o Museu Histórico Nacional fica aberto de quarta-feira a domingo, das 10h às 17h. Atualmente, a entrada é gratuita devido às celebrações do centenário da instituição.

Fonte: G1