PIB cresce 0,9%, e Brasil fica atrás da média dos países ricos em 2012

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou nesta sexta-feira que a economia brasileira cresceu 0,9% em 2012, o menor índice desde 2009 e valor inferior à média do crescimento de países desenvolvidos (1,3%), que têm sido mais afetados pela crise econômica mundial.

 

O PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no país) no ano passado chegou a R$ 4,403 trilhões. No último trimestre, houve crescimento de 0,6% em relação aos três meses anteriores. Na comparação com o 4º trimestre de 2011, expansão no período foi de 1,4%.

 

Segundo estimativa do FMI (Fundo Monetário Internacional), em 2012, os Estados Unidos cresceram 2,2%, e o Japão, 2%. A Alemanha, maior economia da zona do euro, teve o mesmo resultado que o Brasil (0,9%). Já Grã-Bretanha (-0,2%), França (0,2%), Itália (-2,1%) e Espanha (-1,4%), entre outras nações europeias, tiveram resultados ainda piores que o brasileiro, segundo o FMI.

 

Além de ficar atrás do crescimento médio das 35 economias que o FMI considera avançadas, de 1,3%, a expansão da economia brasileira — que havia sido de 2,7% em 2011 — foi em 2012 inferior à média das economias emergentes (5,1%) e à média mundial (3,2%). Ficou, ainda, abaixo do resultado de todos os outros países dos Brics – Rússia (3,6%), China (7,8%), Índia (4,5%) e África do Sul (4,5%).

 


 

‘Esgotamento’

 

O setor que teve melhor desempenho no ano foi o de serviços, que cresceu 1,7%. Já a agropecuária (-2,3%) e a indústria (-0,8%) registraram queda.

 

Pelo lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 3,1%, favorecido pela elevação de 6,7% da massa salarial dos trabalhadores. A despesa com a administração pública aumentou 3,2%.

 

A taxa de investimentos, porém, teve queda de 4% no ano, puxada pelo recuo na produção de máquinas e equipamentos.

 

Segundo Simão Davi Silber, professor de economia da USP, o menor crescimento do Brasil em 2012 em relação ao de algumas economias no centro da crise revela, além de uma recuperação gradual nesses países, “o esgotamento do ciclo de crescimento por incorporação de mão de obra” no país.

 

“Ao longo dos últimos anos, nossa taxa de desemprego se reduziu drasticamente por causa do setor de serviços”, diz ele à BBC Brasil. “Esse processo está completo, senão muito avançado”.

 

Agora, diz ele, o crescimento brasileiro dependerá basicamente de investimentos em tecnologia e infraestrutura, para aumentar a eficiência da produção nacional.

 

Mas a missão tem sido comprometida, segundo Silber, pela desconfiança do setor privado quanto à política econômica do governo.

 

“Houve um recuo importante nas decisões de investimento das empresas, quer por incertezas externas, quer porque o governo improvisou muito em 2012: foi mudando muito rapidamente, de maneira nervosa, alguns pilares da economia.”

 

 

 

O professor cita os setores bancário e elétrico como alguns dos principais prejudicados pelo que qualifica como “comportamento ciclotímico” da política econômica em 2012.

 

Política incoerente

 

Antonio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da PUC-SP, concorda com o diagnóstico.

 

“Não se pode colocar a culpa (pelo crescimento baixo) apenas na crise econômica mundial. Isso é parte do problema, mas a outra parte advém da falta de uma política econômica mais coerente, que sinalize ao mercado qual a visão do governo”.

 

Segundo ele, “ora o governo atua com uma lógica pró-mercado, ora com postura gerencionista típica dos anos 70”.

 

O governo Dilma Rousseff tem agido em várias frentes para estimular a economia. Algumas de suas ações – como o grande anúncio em 2012 de privatizações de estradas, portos e aeroportos – foram bem recebidas por empresários e tidas como importantes para a melhora da infraestrutura do país.

 

Outras, porém, como a elevação de impostos para produtos importados e a redução de tarifas de eletricidade, dividiram opiniões e geraram queixas entre setores afetados.

 

Para Silber, “o governo muitas vezes vai na direção correta, mas com o instrumento errado”. Ele cita como exemplo o caso das tarifas de energia: embora considere bem-vinda a redução nos preços, avalia que o governo reduziu muito o retorno das empresas, o que, para ele, tende a desestimular novos investimentos.

 

O governo, por sua vez, diz que a redução dos retornos condiz com o novo cenário da economia brasileira, mais estável do que quando os contratos foram celebrados, e trará benefícios a todos os setores econômicos.

 

Projeções para 2013

 

O baixo índice de crescimento do Brasil em 2012 já era esperado pela maioria de economistas. Para 2013, porém, espera-se uma melhora expressiva.

 

O FMI, por exemplo, projeta crescimento de 3,5% para o país neste ano, o mesmo que a média mundial.

 

Para Raphael Martello, economista da Consultoria Tendências, a expansão da atividade econômica no último trimestre de 2012 já sinaliza ventos melhores para este ano. Segundo ele, a indústria, cujo desempenho ruim tem travado um crescimento maior do país, vem mostrando sinais de recuperação.

 

“Mas ainda há incertezas sobre a magnitude dessa expansão para o resto do ano”, afirma Martello. Ele espera que em 2013 o país cresça 3,2% — previsão que, contudo, pode ser revista para baixo se não houver melhora gradual na indústria e no nível de investimentos.