VALE A PENA LER: “PARABÉNS, BELA VISTA – MS”- (Jose Paulo S Villalba)

Por – Jose Paulo S Villalba

Nos anos 60, Bela Vista – MT, hoje MS, comemorava e muito, seu aniversário! As solenidades iniciavam, às 06 horas da manhã, com o Toque da Alvorada, no Quartel 10º Regimento de Cavalaria, através do Clarim do Sargento Jofre, e do Cabo Lima, que retumbava em toda a cidade, chegando até Bella Vista Norte – Paraguai!

A torcida era para que esse dia festivo amanhecesse, com o Céu Azul, e o Sol, penetrando, em todas as casas, aquecendo, e iluminando as ruas da cidade!

A missa, na Igreja Santo Afonso, tinha que ser cedinho. O anúncio vinha, com o badalar do Sino, com intervalo de cada 10 minutos. No terceiro e último intervalo, iniciava a missa.
Ou então essa missa, poderia ser ao ar livre, ou Campal, na Praça Álvaro Mascarenhas. Missa, sempre!

Após o momento cristão, principiava as festividades, que era aguardada por todos, com muita expectativa.

Bela Vista e Bella Vista Norte, famosas por serem festeiras e acolhedoras; nessa data recebia muita gente, de cidades próximas, e estudantes que estudavam em outras cidades, e vinham de férias, e traziam seus amigos. E também bela-vistenses ausentes, que já haviam se mudado, para outros lugares. Dessa forma, era muitos visitantes, nessa data maior, da Cidade de Bela Vista.

Desfile e Competições…

Às 8 horas, na Praça Álvaro Mascarenhas, após o Hino Nacional, os Militares dão início ao desfile (Soldados, Veículos, Tanques, Cavalaria, Banda de Música, etc…). Logo a seguir, os Alunos das Escolas, todos uniformizados, fanfarras. Participavam também algumas entidades bela-vistenses… Era o início das festividades cívicas. Todos marchando. Algumas alegorias, evoluções e destaques, eram feitas pelos participantes do desfile, geralmente em frente ao Palanque, onde se encontravam as autoridades, civis, militares e eclesiásticas.

Após, aquela movimentação toda, com muitos aplausos e poeira, o som, e a intensidade da marcha, diminui, indicando que o desfilhe está chegando ao seu final. Depois desse momento de civilidade, continuam os festejos sociais, por todos os cantos da cidade.

Lembro-me, de uma corrida de bicicleta em volta a Praça, com mais de 50 concorrentes. Pedaladas e mais pedaladas, gritaria e torcida pra todo lado. Ganhou de ponta a ponta, o Arari Leão, na época recruta do 10º R.C. Foi uma festa só. Chegou dando risada e pronto para outra, já que possuía, excelente preparo físico.
O Quartel, vez ou outra promovia, para os adolescentes (casal) da cidade, gincanas a cavalo, várias provas, e os participantes precisavam ser bons cavaleiros.

As festividades empolgavam a todos, em especial as crianças.
Lembro-me também, de uma corrida, para gurizada (até 14 anos), organizada, pelos Padres e Diretoria do Colégio Santo Afonso. Iniciava na frente da Igreja Santo Afonso, contornava o Campo de Polo, passando em frente ao Quartel e encerrava novamente na frente da Igreja.

Dada à largada, aquele bando de guris (ou em guarani mitã’is), todos querendo ganhar. Um deles, por ser maior, que a maioria, dos seus colegas, saiu na frente, feito um furacão. Trombando e empurrando todos. Deve ter ficado uns 10 metros à frente, do segundo colocado. Devia estar “se achando, né”! Passou o Bar do Gentil, “todo garboso!” Hora que chegou à frente da caixa d´água do Quartel, a língua, foi no dedão do pé. Aí só se via, a gurizada, passando a sua frente. “E perna, pra quem te quero”. Se esse guri terminou a prova, foi um dos últimos. “O furacão da saída, foi só um redemoinho”! Coisas de garotos! Hora dessas, conto seu nome! (Hahaha…).

(Vale ressaltar; os Padres Redentoristas, e Freiras, tiveram grande importância, no ensino e na socialização, daquela gurizada bela-vistense).

Futebol e Estudantes de Lins – SP…

E assim, iam acontecendo as celebrações.
Era sagrado, na véspera do aniversário da cidade, à noite, na Quadra do Clube Belavistense, a Seleção Belavistense de Futebol, convocada pela Liga Esportiva Belavistense (LEB), enfrentar equipes de cidades próximas, como: Caracol, Jardim, Aquidauana, Guia Lopes, Nioaque, Antonio João, Ponta Porã, Dourados, Campo Grande. E vez ou outra, vinham equipes, de outros Estados.

E no dia do aniversário, à tarde, futebol de Campo no Estádio Major Fontoura. Esses jogos, tanto de quadra como de campo, lotavam completamente, todas as dependências dessas praças de esportes. Praticamente toda cidade, e visitantes, se fazia presente. E o povo torcia! E como torcia!

Certo aniversário da cidade, daqueles inesquecíveis “anos 60”. Os bela-vistenses, que estudavam fora, em especial Lins – SP (Colégios Internatos; Americano e Salesiano), Monte Aprazível, Dom Bosco de Campo Grande e mais alguns outros… Formaram uma equipe, para enfrentar a Seleção Belavistense de Futebol. Foi um evento diferente, e empolgante. E como esses estudantes, não eram muitos, enxertava com os amigos, que traziam e também moços da cidade.

Um fato, que causou certo alvoroço, nesse confronto, foi no jogo de Vôlei; Um atleta, do time dos estudantes, passou um óleo, nas pernas, coxas, que chamava atenção pelo brilho, causando um efeito luminoso e brilhante. Novidade na época. Esse fato chamou atenção. O calção curto, e aquele brilho; para os homens: “Epa!”, que é isso? Já as mulheres, se entusiasmaram com o rapaz, causando enorme ciúme, nos fronteiriços. Essa disputa, contra essa seleção de estudantes, foi muito comentada, por algum tempo, depois do acontecimento. Após esse jogo, praticamente em todas as férias, havia essa disputa, que empolgava a todos.
E os eventos, iam acorrendo.

Nessa época, ainda não havia, a famosa, e talvez o ponto máximo, das comemorações do Aniversário de Bela Vista, nos dias atuais; a Exposição denominada “Expobel” (Exposição bela-vistense de gado).

Baile Popular e de Gala…

Depois de muitas comemorações, festas, badalações, os festejos, culminavam com os tradicionais, bailes da cidade. “O Baile Popular e o Baile de Gala”!

Antes do baile, las hermosas mujeres, bela-vistenses, se embelezavam, num dos primeiros, Salão de Beleza da cidade. Cujo nome era: “Ramona”. De propriedade da, Ramona Alves Corrêa, situado na Rua 15 de Novembro, 228, ao lado do Cine Coringa. As moçoilas chegavam ao Salão, um pouco “desajeitadas”, e a Ramona, as liberava, belas princesas!

Preparadíssimas, para o grande baile! Bela Vista e Bella Vista Norte – Paraguai, realmente, tinha umas fronteiriças lindas!
O “Baile Popular” em guarani “Jeroki-Popó” era realizado no Cine São José. Retiravam as cadeiras/poltronas, e o baile animadíssimo, entusiasmava a todos. Como o Baile Popular, iniciava mais cedo. Lá pelas 20h, terminava mais cedo também, a meia noite por ai.

E às 23 horas, iniciava o Baile de Gala, no início no Clube Belavistense, o mais antigo. Depois construíram o Grêmio Pedro Rufino, onde também, esse baile era realizado. Geralmente, com uma boa orquestra, que poderia ser: Cassino de Sevilha, Jasson de Tupã, ou ainda com o tradicional, e regional Conjunto: -“OS BELVIS”– (Belavistenses), do Tranquilino Vieira (acordeón, violão, bandolin e violino) e seus rapazes. Os componentes eram: Waldir Vieira (saxofone), João Vieira (guitarra/bateria), Maria Vieira (Kotinha, cantora), Sérgio Dutra (acordeón), Vitor Niz e André Aguirre (cantores), Osvaldo-Tarzan (bateria)…

Orquestras e Conjunto tocavam, músicas eternas como: Valsa de Uma Cidade, Solamente Una Vez, Besame Mucho, Aquellos Ojos Verdes, Recuerdos de Ypacaraí, La Barca, Perfume de Gardênia, A Summer Place, Only You, Maria Bonita, Noches Del Paraguai, Índia e tantas outras, músicas imortais, que melodiosamente, tocavam os ouvidos e corações dos participantes. “Tema de Lara”, não podia faltar.

O romantismo das músicas, o calor do baile, a animação, faziam com que se iniciassem namoros, noivados e muitos casamentos. O cheiro do Uísque, que na época permeava os salões de baile, permanecerá, talvez para sempre, em nosso inconsciente… Que, em determinados momentos, ou vez ou outra, reativará, e voltaremos ao velho salão de baile do Clube Belavistense, e dançaremos o “Baile da Cidade”.

Esse baile atravessava a noite, e na maioria das vezes, só encerrava às 06 horas da manhã. Ressaca, era curada, no nosso velho amigo, Rio Apa. Passado os festejos, o aplauso de todos, pelos belos, e prazerosos, momentos, dessas comemorações.

Bar Bossa Nova, Saudades, e o Ônibus…

Na noite posterior, no Bar Bossa Nova, fundado pelo Seu Elias Barbosa, continuado pelo Cristóvão Costa, a moçada se reunia, para comentar, os belos e inesquecíveis momentos do baile.
E nesse encontro, já com gosto de saudades, pois além dos festejos que encerravam, as férias estavam acabando, e o os jovens que estudavam fora, se preparavam para partir.

Com essas comemorações, do Aniversário da Cidade, culminando com os bailes; Popular e de Gala, vai encerrando também, para aquela geração de jovens, a bela e gloriosa, “década de 1960”.
E em sua maioria, esses ainda quase garotos, partiram para outros mundos. Deixaram sua terra natal. Alguns lembram e voltam. Outros por algum motivo, não tiveram essa chance… E o mundo foi mudando, ou nós fomos mudando…

E a nossa interiorana, fronteiriça Bela Vista, com Bella Vista Norte, deixou-nos saudades, aliás, imensas saudades, de tudo, e de todos, como: Da cidade, das pessoas, das ruas, das árvores, das chuvas, daquele céu enluarado e estrelado. Enfim de tudo, que passamos e vivemos na fronteira… A sensação que fica, é a de um vácuo no ar… Que carregaremos, para todo o sempre, onde quer que estejamos…

E na última noite, uma bela e inesquecível serenata… E de repente, às 05 horas da manhã, uma longa buzina, na madrugada… E algum, daqueles garotos grita… “Olha o ônibus”…

Un abrazo a los viejos belavistenhos

J. Paulo Villalba
Campo Grande – MS