Ministério Público denuncia sete pessoas por execução no interior

O MPE (Ministério Público Estadual) denunciou sete pessoas acusadas de participação na execução de Ronaldo da Silva Lopes, de 20 anos, que foi morto a tiros dia 18 de maio do ano passado, em uma residência localizada a rua Vearni Castro, em Nova Andradina. Ronaldo era morador da Vila Amandina, município de Ivinhema. O julgamento foi marcado para o próximo dia 30, no Tribunal do Júri de Nova Andradina, às 8h. As informações do site Jornal da Nova.

Dos sete, durante a pronuncia, Cícera dos Anjos Silva, de 49 anos, foi impronunciada, está em liberdade. Antônio Marcos dos Anjos Silva, de 31 anos, vulgo “Daleste”(preso) e o Bruno Fabrício da Silva, de 24 anos, vulgo “Lapidado” (preso), não irão a julgamento no dia 30, por recorrerem, os demais vão a júri, como é o caso do empresário Ademir Naide, de 46 anos, conhecido como “Gago” (preso), Mateus Moreira Constantino, de 23 anos, vulgo “Dog” (preso), Willians Moreira, de 32 anos, vulgo “Bonitão” (preso), e Maxilaine dos Anjos da Silva, que completa 30 anos nesta quinta-feira (5), conhecida como “Soberana”, (em liberdade).

Operação Mudra

Dia 23 de julho de 2018, foi deflagrada a “Operação Mudra” em Nova Andradina, em ação conjunta do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), 3ª Promotoria de Justiça de Nova Andradina, Polícia Civil de Nova Andradina, Polícia Militar de Dourados e Nova Andradina, do 3º CIPM e da Agência de Inteligência da PM de Dourados, onde visou dar cumprimento a 18 mandados de busca e apreensão e de seis prisões preventivas expedidas pelos Juízos da 2ª Vara Criminal de Dourados e da Vara Criminal de Nova Andradina, nas cidades de Nova Andradina, Campo Grande, Terenos, Dourados, Caarapó e Porecatu (PR).

Naquela ocasião foram presos em Nova Andradina, o empresário Ademir Naide, de 46 anos, conhecido como “Gago”, Mateus Moreira Constantino, de 23 anos, vulgo “Dog”, Willians Moreira, de 32 anos, vulgo “Bonitão”, Cícera dos Anjos da Silva, de 49 anos e sua filha, Maxilaine dos Anjos da Silva, que completa 30 anos nesta quinta-feira (5), conhecida como “Soberana”. Foram cumpridos os mandados de prisão em presídios contra, Antônio Marcos dos Anjos Silva, de 31 anos, vulgo “Daleste”, – filho de Cícera e irmão de Maxilaine –, Bruno Fabrício da Silva, de 24 anos, vulgo “Lapidado”.

No dia 8 de maio de 2018, por volta das 19h40, na residência localizada na rua Vearni Castro, em Nova Andradina, os denunciados, agindo dolosamente e, em concurso de pessoas, por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, desferiram diversos disparos de arma de fogo contra Ronaldo da Silva Lopes, de 20 anos, provocando-lhe ferimentos que foram a causa eficiente da sua morte.

Investigação

Conforme os autos que o Jornal da Nova teve acesso, logo após a prática do crime foi instaurado pela 1ª Delegacia de Polícia Civil de Nova Andradina um inquérito policial, sendo imediatamente acionada a SIG (Seção de Investigações Gerais) para a descoberta da autoria delitiva e do motivo do crime.

A vítima foi atingida por diversos disparos de arma de fogo, sendo pelo menos três deles na cabeça. Os autores do delito foram até a residência onde a vítima estava, isolaram-na dos demais moradores, inclusive crianças, e a executaram, fugindo em seguida sem subtrair qualquer bem de valor. Os assassinos, antes dos disparos, fizeram questão de confirmar se o seu nome era Ronaldo. Somente após confirmação é que a vítima foi morta.

Durante as investigações foi apurado que a vítima havia fugido para Nova Andradina, após participar em Amandina, de um homicídio ocorrido em 28 de abril de 2018. Naquela oportunidade, Ronaldo e seu irmão, Antônio Gabriel Lopes, assassinaram, a golpes de faca e madeira, João dos Anjos, de 35 anos, mais conhecido como “João Maconha”.

Ocorre que João Maconha era irmão da denunciada Cícera dos Anjos e tio dos denunciados Antônio Marcos e Maxilaine, todos com reconhecido envolvimento com a facção criminosa denominada PCC (Primeiro Comando da Capital), sendo que o “Daleste”, quando aconteceu os fatos, encontrava-se recolhido na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), de onde arquitetou todo o plano criminoso e controlou sua execução. Assim, a motivação do crime não seria outra senão vingança pela morte de João dos Anjos.

As investigações prosseguiram e identificaram Bruno “Lapidado” e Willians “Bonitão”, como executores do crime, que, para tanto, utilizaram-se da motocicleta Honda/CG 150 Titan, cor preta, emprestada de Mateus Moreira.

Além disso, restou confirmada, após o compartilhamento das provas produzidas no procedimento investigatório criminal instaurado para apuração da atuação de integrantes da facção criminosa denominada PCC, a participação efetiva do Ademir Naide, de 46 anos, conhecido como “Gago”, em toda a organização do crime e suporte logístico para os demais suspeitos.

De acordo com o provado nos autos, logo após tomar ciência da morte de João dos Anjos, o denunciado “Daleste”, mesmo recolhido na PED, iniciou o planejamento da morte de Ronaldo e acompanhou, passo a passo, em tempo real, toda a empreitada criminosa. Tanto a escolha dos executores do delito quanto a ordem para sua consumação partiram de Marcos Antônio, sempre por meio de ligações realizadas dentro da PED.

A mãe e irmã de “Daleste”, Cícera e Maxilaine respectivamente, ficaram incumbidas de identificar e ficar de vigília após a chegada da vítima [Ronaldo] em Nova Andradina.

Ambas identificaram Ronaldo após sua chegada no terminal rodoviário, seguiram-no e apontaram aos executores a residência onde ele se encontrava, possibilitando o sucesso da empreitada criminosa.

Execução

Com a confirmação da identidade e localização da vítima, a execução do delito ficou sob responsabilidade dos denunciados Willians e Bruno que, de posse de armas de fogo, foram até a residência onde Ronaldo estava e efetuaram os disparos que o levaram a morte. O momento do crime, inclusive, foi inteiramente gravado e consta num áudio (não disponível), numa conferência da qual participam os irmãos Marcos Antônio e Maxilaine.

Antes do delito houve duas outras tentativas frustradas de execução da vítima. A primeira, ainda na parte da manhã, da qual participaram os denunciados “Gago” e “Bonitão”. Na segunda, no início da tarde “Bonitão e “Lapitado”.

A motocicleta utilizada pelos executores na prática do crime foi a eles emprestada pelo Mateus, primo de Willians “Bonitão”, e que tinha completa ciência de toda a empreitada criminosa, inclusive mantendo contato direto com Marcos Antônio. Nesse passo, vale salientar que, logo após o crime, com o intuito de dificultar a investigação policial, Mateus vendeu a moto.

Ainda conforme os autos, “Gago”, além de participar de uma tentativa frustrada de execução da vítima, foi responsável por dar todo o suporte logístico para os demais denunciados, inclusive fornecendo uma das armas de fogo utilizada no crime. Atuou também no planejamento do delito, diretamente com Antônio Marcos e Willians e teve seu estabelecimento comercial, usado como ponto de reunião e apoio a todos, em especial por sua proximidade com o local dos fatos.

Motivação do Crime

O crime foi praticado por motivo torpe, por vingança, visto que a vítima foi executada em represália em razão de seu envolvimento anterior na morte de João dos Anjos, de 35 anos.

Redução da capacidade de defesa da vítima

O delito também foi cometido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. Ronaldo foi executado pela dupla enquanto estava sentado na varanda da residência de seus familiares, após ter sido rendido por seus algozes. Estando desarmado e tendo sido surpreendido pelos executores, não foi capaz de esboçar qualquer tipo de reação e impedir a prática delitiva, sendo que os últimos disparos foram feitos contra sua cabeça, enquanto o ofendido já estava no solo.

Da prova da materialidade e da autoria

A materialidade e a autoria do crime em comento estão evidenciadas pelo boletim de ocorrência, pelos relatórios de investigação, pelo laudo de exame necroscópico, pelo laudo de exame de local de crime, pelos laudos em aparelhos celulares, pelos autos de apreensão, pelo relatório do Gaeco e mídias compartilhadas, bem como pela prova testemunhal colhida ao longo da investigação.