Máfia cobrava até R$ 35 mil por ingresso

O sonho de ver uma final de Copa do Mundo custava até R$ 35 mil no esquema de cambistas desmontado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. O valor foi o mais alto apurado pelas investigações parciais da 18ª DP (Praça da Bandeira) por uma única entrada para a decisão – bem mais alto que os cerca de R$ 10 mil cobrados pela Fifa por entradas VIP para a partida na pré-venda, desde 2013.

Com o valor seria possível levar quase uma família inteira ao estádio para assistir à final com as mordomias previstas neste tipo de serviço, com bebidas, comidas, vista privilegiada, entrada exclusiva, entre outros benefícios.

Na comparação com o preços da categoria 4 para a mesma partida, seria possível comprar pouco mais de 100 ingressos.

Nesta segunda-feira, a polícia prendeu o suspeito de ser o fornecedor de ingressos para a máfia, o diretor-executivo da Match Services, Raymond Whelan. No entanto, na madrugada de hoje ele foi solto após ter habeas corpus aceito pela Justiça.

A empresa é a parceira da Fifa para a operação de venda de bilhetes para a Copa do Mundo. Whelan foi identificado após a prisão do franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, considerado pela polícia um dos líderes do esquema.

Segundo a polícia, ao ser preso, Whelan mostrou surpresa, mas não se exaltou. No dia, ele almoçou tranquilamente e permaneceu a maior parte do tempo dentro do Copacabana Palace, onde estava hospedado. Negou todas as acusações antes de entrar em um carro da segurança do hotel para encaminhado à delegacia, onde chegou, talvez por descuido, vestindo uma camisa da Match, com o nome da empresa estampado.

Ele não é o único na mira da polícia, que vai atrás de pelo menos mais sete suspeitos. A lista ainda pode aumentar. “Vamos fechar o inquérito e depois abrir um novo procedimento”, disse delegado Fábio Barucke.

Advogado barrado por falta de espaço

A mobilização de advogados em torno de Whelan foi intensa desde antes da chegada do executivo à 18ª DP, no início da noite de segunda. São dois escritórios trabalhando na defesa do inglês, além dos advogados da Match. No caso da empresa, os representantes disseram apenas que a companhia falaria por intermédio da assessoria de comunicação.

A prisão de Whelan causou uma peregrinação de advogados à delegacia. Pelo menos sete compareceram ao local e se apresentaram como representantes do executivo. Um deles chegou apressado, aparentando nervosismo, mexendo o tempo todo no celular e tremendo muito as mãos.

Ao pedir para entrar na sala onde Whelan se encontrava, foi barrado por um agente, que alegou “superlotação” do recinto, já cheio de advogados. Ele escreveu um recado no verso de um cartão de visitas, mas ficou na dúvida se Whelan entenderia. As línguas que o diretor da Match domina é outro ponto de discórdia. Ele afirmou aos policias que não fala português, mas está desde 2012 permanentemente no Brasil cuidando da operação de ingressos.