Famílias recebem ordem para deixar área e temem falta de moradia

Fiscais da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) entregaram esta manhã notificações para 16 famílias deixarem os barracos que construíram na comunidade Esperança, região do Dom Antônio Barbosa, entre as saídas para São Paulo e Sidrolândia, zona sul de Campo Grande, sob o risco de terem as unidades demolidas no prazo de cinco dias em caso de desobediência. A informação é que se trata de uma área pública.

A ordem de saída não é novidade para os moradores. Na semana passada, segundo relatos repassados à reportagem, houve barracos demolidos por funcionários públicos e depois levantados de novo pela comunidade.

Ariane Gomes Patrocínio- 28 anos, manicure, que mora com marido e filha há três anos no local, e Amanda Sthefany, 22 anos, contam que resistiram à ordem de saída da semana passada, permanecendo dentro da unidade, o que impediu a ação da equipe.

Ariane conta que recebe R$ 600 de Bolsa Família e de Vale-Renda são R$ 900; o marido faz diárias na construção civil. Segundo ela, o que eles têm de orçamento não é suficiente para pagar moradia, contas de água e luz e comprar alimentação. “Se eles derrubarem tudo, a gente vai ficar na rua. O dinheiro que a gente ganha não dá para pagar aluguel, água, luz e comida”, explicou.

Ordem de saída de área pública reacende o medo de não terem para onde ir em famílias
O relato é o mesmo de Amanda, que diz não ter para onde ir caso o barraco seja demolido. Ela também recebe R$ 600 de Bolsa Família e o marido tem R$ 1.900 de remuneração na construção civil. Ela alimenta o sonho de conseguir uma casa ou mesmo um terreno em que pudessem construir a moradia.

A incapacidade de pagar todas as despesas é o motivo que se repete a cada relato, mas para famílias maiores, o drama é mais complicado. Fernanda Braga Cabral, 31 anos, dona de casa, chegou à área pública há dois meses, com marido, uma irmã adolescente e quatro filhos, com idades entre 3 e 13 anos. Ela conta que a primeira vez que viu uma equipe chegando à invasão para falar da ordem de saída, chorou, por não ter solução para a falta de moradia.

Ela revelou que tem, ainda, outro filho, que ficou com o pai. Um menino autista, de 11 anos, que exige cuidados especiais que ela não tem como oferecer na comunidade. Fernanda relatou que o marido faz diárias na construção civil e ela já foi contratada para varrição de ruas. Com um cenário incerto, os R$ 800 de Bolsa Família são insuficientes. Ela conta que foi a uma unidade do Cras pedir a doação de cesta básica mas recebeu uma negativa, uma vez que já é beneficiária de um programa social.

As mulheres relatam o sonho de conseguir a casa, a inscrição em programas habitacionais e a espera. A única que já foi beneficiada, mas acabou por perder o imóvel é Iara Conceição Guimarães, de 34 anos. Ela revela que precisou cuidar da mãe doente e perdeu a casa da Emha.

Iara vive há seis anos na ocupação em área do Município. Com ela, estão sete filhos, três deles nascidos depois que passou a viver ali. O mais novo, um recém nascido, está internado em decorrência de problemas no parto. A precariedade em que vive não permite sequer a certeza de poder ver o bebê todos os dias no hospital. Os outros filhos têm idades entre 2 e 16 anos.

A palavra esperança, que dá nome ao grupamento de famílias, é o que alimenta o desejo de Iara. Ela diz não ter para onde ir se for obrigada a sair da área. “Ninguém gosta morar em barraco que quando chove, molha tudo. Moro aqui porque preciso”, afirmou, apontando que se tratou de uma necessidade.

Enquanto a reportagem ouvia moradores e presenciava os fiscais entregando notificações, com o apoio de equipe da Guarda Civil Metropolitana, era possível constatar que mais pessoas chegavam para também montar um barraco e fugir da falta de moradia, revelando a complexidade da situação. 

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