“Dois irmãos” leva trama amazonense ao horário nobre da televisão

Yaqub e Omar, gêmeos marcados pelo ódio intenso que sentem um do outro. A relação tumultuada entre os dois é o epicentro de “Dois Irmãos”, uma das obras mais aclamadas do escritor amazonense Milton Hatoum. Depois de uma adaptação para os quadrinhos, chega a hora da estreia da versão televisiva da obra, sob a direção de Luiz Fernando Carvalho. O primeiro dos dez episódios vai ao ar hoje, às 22h30min.

No elenco da produção, Cauã Reymond interpreta os gêmeos, que desde a infância nunca tiveram um bom relacionamento. “Devorei o livro e, mesmo sem muita experiência, eu me vi interpretando Yaqub e o Omar. Os dilemas familiares e as intrigas causadas pelo excesso e pela total falta de amor regem a história de forma muito profunda”, afirmou o ator em entrevista à TV Press.

A série faz parte do Projeto Quadrante, que tem foco na adaptação de obras literárias para a televisão. Iniciado em 2007, previa a produção de quatro minisséries, das quais duas já foram ao ar: “A Pedra do Reino”, baseada em “O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, de Ariano Suassuna; e “Capitu”, versão televisiva de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.

Desde 2009, especula-se sobre a produção de “Dois Irmãos”. Rumores sugeriam que o projeto havia sido cancelado, em razão da baixa audiência das adaptações anteriores. Depois de anos trabalhando no roteiro, Carvalho filmou os episódios no início de 2015. A série passou um ano na geladeira, mas o diretor não considerou isso um problema.

“Acho que valeu a pena esperar por esse espaço na grade”, afirma. Segundo ele, o cuidado com a obra sempre existiu e o tempo extra de finalização foi aproveitado para garantir que o material ficasse do jeito que os produtores queriam. “O texto do Hatoum se vale do horário de exibição para não perder a força”, completa o diretor.

Luiz Fernando Carvalho conquistou seu espaço na televisão brasileira com a direção de grandes sucessos das telenovelas, como “O Rei do Gado”. No cinema, ele firmou seu nome com a adaptação de outro clássico da literatura brasileira, “Lavoura Arcaica”. O longa-metragem deixava evidentes os caminhos estéticos que viriam a ser tomados por Carvalho nas telinhas.

Primeiro, minisséries como “Hoje É Dia de Maria” e “A Pedra do Reino” apresentaram a revolução visual e narrativa que o diretor propunha. Com “Meu Pedacinho de Chão”, o diretor pôde desafiar as convenções no consagrado formato das novelas. Agora, o diretor retorna ao formato mais enxuto das minisséries – em que, supostamente, teria mais liberdade na produção.

OUTRAS VERSÕES

Além de traduções publicadas nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Grécia, Líbano, entre outros países, “Dois Irmãos” foi transformado em quadrinhos pelas mãos de Fábio Moon e Gabriel Bá. A dupla, que surgiu no universo das HQs com “Dez Pãezinhos” e conquistou o mundo, também já havia adaptado o conto “O Alienista”, de Machado de Assis.

A versão lançada pelo selo Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras, também obteve destaque internacional e garantiu aos irmãos o Eisner de “Melhor Adaptação de Outro Meio”, em 2016. A premiação norte-americana é considerada o “Oscar dos quadrinhos”. Este, no entanto, já é o quarto prêmio que cada um dos artistas recebe.
No blog mantido pela dupla, eles escreveram: “A emoção de vencer continua inacreditável”. Sobre “Dois Irmãos”, afirmaram se tratar de um projeto especial, “uma história incrível que tivemos a chance de apresentar para novos leitores. Foi uma honra trabalhar nesse livro, que merece toda atenção possível, e esse prêmio enche nosso coração de felicidade”.

A “graphic novel” de “Dois Irmãos” nasceu como uma homenagem aos 15 anos do livro de Hatoum. Os primeiros contatos entre o autor e os quadrinistas foi em 2009, durante uma participação do trio na Festa Literária de Paraty. O livro

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