Urnas e batons: mulheres devem fazer a diferença nas eleições em Mato Grosso do Sul

Desde maio de 1933, as mulheres participam da escolha dos nossos representantes. De lá para cá, muita coisa aconteceu até a primeira mulher chegar à Presidência da República (Dilma Rousseff). Em Mato Grosso do Sul, elas estão presentes em todas as esferas de poder: na Governadoria (por meio da vice, Simone Tebet), nas secretarias, na Assembleia Legislativa, nas Câmaras Municipais e nas prefeituras.

Não há dúvida de que a presença feminina vai fazer diferença nas urnas novamente em 2014, apesar de o período ainda ser de definições. Partidos e lideranças têm feito reuniões constantes. Homens e mulheres estão decidindo se irão disputar as eleições de outubro.

A vice-governadora Simone Tebet (PMDB) vive um momento de definição, mas do partido. Ela quer disputar o Senado, mas aguarda a legenda dar a palavra final. Filha do ex-senador Ramez Tebet (1936-2006), Simone explicou, em entrevista ao Midiamax, que, se não for escolhida para disputar o Senado, deixará de ser candidata nesta eleição. “Não vou ser candidata a deputada estadual por conta do marido [Eduardo Rocha, que é deputado estadual e concorrerá à reeleição]. Também não quero disputar para federal porque tenho compromissos com outros candidatos”, declarou. 

Para ela, o número de mulheres não evoluiu muito desde que entrou em vigor a Lei das Cotas, mas a qualidade das candidatas e os cargos disputados por elas têm melhorado. “A mulher tem hoje vontade de participar. Nós fazemos a política do dia a dia, mas muitas não têm oportunidade. Os partidos escolhem mulheres, mas não dão sustentação. Elas têm dificuldade de disputar em igualdade de condições. Muitas enfrentam dupla ou tripla função”, avaliou.

Ao chegar ao poder, a diferença entre homens e mulheres está na sensibilidade para os problemas sociais, na avaliação da vice-governadora. “Mesmo quando se trata de dinheiro, de PIB, ela tem o olhar mais social. Quando vai ver uma indústria para se instalar já pensa no emprego. Quando pensa em obra de infraestrutura, quer que diminua a distância que a ambulância vai ter que percorrer. É um olhar mais maternal”, disse.

Filiada ao PSB, a advogada Tatiana Ujacow não comenta sobre as eleições de outubro, mas explicou que no momento a prioridade é a atuação como presidente da Comissão Provisória de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). “No momento, estou focada neste trabalho para poder levar informação para as mulheres com atuações preventivas e orientação de como buscar ajuda. Precisamos otimizar ações para tirar a cidadania da mulher do papel e torná-la realidade, e o primeiro passo é reduzir a violência doméstica”, disse. 

Sobre a mulher na política, Tatiana diz que é preciso maior participação, pois elas têm mais sensibilidade e podem fazer muito para dar dignidade aos que mais precisam. “Em 2010, quando disputei o cargo de vice-governadora, recebi da população incentivo contaminante, onde se vê a confiança e esperança da população na capacidade feminina. Como cidadã, espero que caminhemos para eleições limpas e é preciso estimular a adesão da sociedade para esse fim”.

Esposa do ex-governador e hoje vereador Zeca do PT, Gilda Gomes é mais uma mulher de destaque na política. Ela contou que vai participar das eleições de outubro como militante, levando a discussão e as propostas do PT. Sobre a possibilidade de ser candidata, Gilda disse apenas que “não tem nada conversado”. Ela também acredita que a política feita pelas mulheres é diferente. “A mulher tem mais sensibilidade na vida pública, ela atua pensando na vida das pessoas”, resumiu.

 

Maioria nas urnas, minoria na política

Apesar de muitas mulheres terem papel de destaque na política, uma maior participação feminina ainda depende da Lei das Cotas. As mulheres representam mais da metade do eleitorado em Mato Grosso do Sul (51,61%), segundo levantamento atualizado nesta sexta-feira (31) pela Justiça Eleitoral, mas conquistaram apenas 32,5% cargos políticos nas eleições de 2012.

Dos 1,787 milhão de eleitores, 920.213 são mulheres e 862.898 homens. Ainda assim, na última eleição, dos 7.070 candidatos no Estado, 4.772 eram do sexo masculino (67,49%), restando às mulheres apenas 2.298 vagas.

No caso dos cargos onde a cota não é exigida, o número de candidatas ficou bem abaixo do índice de 30%. Para a disputa pelas administrações municipais, apenas 28 mulheres foram candidatas a prefeita, o que equivale a 13,33% do universo de candidatos ao cargo. Mato Grosso do Sul tem 79 prefeituras.

Até mesmo para o cargo de vice-prefeita a participação feminina foi pequena, em relação ao número de homens. Foram 45 candidatas, o que representou 21,32%. E mesmo com a Lei das Cotas, disputaram vagas nas câmaras municipais apenas 2.225 mulheres (33,46%).

A Assembleia Legislativa conta com apenas duas deputadas: Dione Hashioka (PSDB) e Mara Caseiro (PTdoB), ambas com cargo na Mesa Diretora. Já na Câmara Municipal de Campo Grande são cinco mulheres e 24 homens.

Lei das Cotas – A lei 9.504/97 (artigo 10, §3º) estabelece que cada partido ou coligação precisa preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. A regra visa assegurar a participação de homens e mulheres no cenário político nacional.

Os percentuais não se vinculam a nenhum dos sexos, aplicando-se a ambos, mas é inegável que a cota eleitoral de gênero tem por objetivo garantir uma maior participação das mulheres na vida política brasileira.

Saia justa – Na última quinta-feira, o governador André Puccinelli revelou que o PMDB está tendo dificuldade de convencer as mulheres a disputar a eleição. Ele disse ter tentado convencer a vereadora Carla Stephanini a ser candidata a deputada estadual, mas que ela não teria se animado.

Algumas deixam de participar das eleições para apoiar o marido. Este é o caso da ex-vereadora Magali Picarelli (PMDB), que vai apoiar a reeleição do deputado Maurício Picarelli, do mesmo partido. “Eu serei cabo eleitoral. Não vou disputar nenhum cargo”, contou.

Apesar de não ser candidata em 2014, Magali destaca que as vantagens das mulheres na política estão na sensibilidade e na percepção. “Aos poucos estamos mudando a mentalidade de que política é coisa só para homem”, disse.

Já a vereadora Grazielle Machado (PR) depende de uma decisão do pai, o deputado Londres Machado (PR), para ser candidata a deputada estadual. Recordista nacional em mandatos consecutivos (11), Londres poderá se aposentar neste ano e permitir a ascensão da filha. O Midiamax tenta conversar com Grazielle sobre o assunto desde sexta-feira (31), mas ela não respondeu os telefonemas.

A vereadora Professora Rose (PSDB) provavelmente vai conversar com o irmão, deputado Rinaldo Modesto (PSDB), antes de decidir se será candidata. O Midiamax também não conseguiu falar com ela.