Sem saudades- por Hiroshi Uyeda

Confortavelmente instalado na varanda de sua cabine, no 11º andar do imenso transatlântico, antes de aportar em Tenerife, nas Ilhas Canárias, um pai bate um longo papo com seu filho em frente ao seu notebook. Vê na tela do monitor toda a família e aos fundos, a cachorrinha Dolly. Momentos de alegria transmitidos on-line, real time. Trocam ideias sobre o tempo e as novidades da viagem. Enviam fotos e as comentam.  Já é uma hora da manhã e se despedem. No Brasil, o filho vai assistir o Jornal Nacional, inteirando-se das principais notícias nacionais e internacionais.

 

As distâncias deixaram de ser empecilhos à comunicação. Mas, nem sempre foi assim. Em Bela Vista, nos anos 60, os funcionários da agência do Correios em frente à Praça Álvaro Mascarenhas, desdobravam-se não apenas em receber as mensagens em código Morse, mas, também, após recebê-las,torná-las entendíveis, pois sempre chegavam truncadas. Problema sério para os bancos. Estes, quando necessário, serviam-se do serviço de rádio do Exército, gentilmente oferecido pelo Comando do 10º R.C.

 

Familiares longínquos comunicavam-se com os residentes em Bela Vista por telegrama, sabendo, previamente, do atraso de entrega, em torno de 3 dias. Um dia para chegar em Campo Grande, outro viajando de ônibus e outro para ser entregue. Havia, todavia, uma garantia: seria entregue. O carteiro conhecia todos os moradores. Muitos destinatários só podiam comparecer à missa de 7º dia de algum familiar falecido, cuja notícia só chegou ao seu conhecimento após o sepultamento.

 

Fazer uma ligação telefônica interurbana era outro drama. Havia necessidade de programar a ligação com antecedência. Geralmente um dia. Aos berros as partes se comunicavam, sempre precariamente. As cartas, quando não se extraviavam, demoravam meses para chegar. Embora todas as tecnologias, hoje existentes, as correspondências, por via postal simples, demoram, no mínimo, uma semana. Isso quando não há greves.

 

Havia uma forma muito chique para se comunicar. Eram os cartões postais, impressos ou com fotos coloridas, bem mais caros. Quando alguém viajava era comum enviá-los aos parentes e amigos, com longas narrativas para encher de inveja os destinatários. Estes, quando não os recebia, ficavam magoados, imaginando-se esquecidos.

 

Os Correios ofereciam alternativa muito elegante: os aerogramas impressos com estampas coloridas e custos de selos inclusos. Eram, já se sabia, portadoras de boas notícias, ao contrário dos telegramas. Dava arrepio abri-los. Muitos se escondiam nos quartos para prepararem o anúncio.

 

 

Antigamente era assim. Ainda hoje as vovós guardam com maior carinho as missivas com imagens dos filhos e netos. Não dá para sentir saudades da tecnologia daquela época. Somente das lembranças.