'Science': cientistas estão a um passo de criar a verdadeira capa da invisibilidade

Em um futuro próximo, a ciência poderá ser capaz de criar uma capa da invisibilidade, como a usada pelo bruxo Harry Potter na ficção. A edição desta semana da prestigiada revista Science traz na capa um artigo que revela como cinco físicos da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, criaram um manto microscópico e ultrafino que, colocado sobre objetos do tamanho de células, tornou-os invisíveis sob a luz. De acordo com os cientistas, esse é só o início: o material poderá ter dimensões maiores em pouco tempo.

Há pelo menos uma década, pesquisadores de todo o mundo tentam construir um material que seja capaz de esconder objetos tridimensionais no espectro da luz visível, trabalhando com substâncias na escala do nanômetro (um nanômetro equivale a um milionésimo de milímetro). A equipe de autores do estudo da Science conseguiu a mágica com nanoantenas de ouro, blocos minúsculos que foram dispostos sobre uma superfície semelhante a uma pele finíssima, com espessura de 80 nanômetros (ou seja, 1.000 vezes mais fina que um fio de cabelo). Assim que as ondas luminosas batem na superfície, são redirecionadas de tal forma que se tornam imperceptíveis.

“Esta é a primeira vez que um objeto 3D de forma arbitrária foi mascarado da luz visível”, afirmou o principal autor do estudo, Xiang Zhang, diretor do Laboratório de Ciências dos Matériais de Berkeley.”Nossa capa ultrafina parece um casaco. É fácil de desenhar e implementar, e é potencialmente escalável para esconder objetos macroscópicos. Ou seja, pode ser possível envolver pessoas nela.”

Mas não agora. A grande limitação do material é que os padrões das nanoantenas devem ser projetados de forma extremamente precisa para coincidir com as saliências da superfície do objeto que está por baixo. Assim, se o objeto se mexer, a ilusão desaparece. Ou seja, mesmo que seja construída em grandes dimensões, uma pessoa não poderá caminhar com a capa se se tornar invisível, como nos filmes.

Além disso, ele funciona para alguns comprimentos de onda luminosa e as características a serem escondidas não podem ser muito grandes ou pontudas em comparação ao comprimento das ondas, porque as sombras não conseguem ser apagadas. Em um artigo complementar na Science, Zeno Gaburro, físico da Universidade de Trento, na Itália, explica que ainda não é possível corrigir as sombras, pois “o lado que está escuro não vê a luz, então não tem jeito de corrigir (a sombra) usando essa técnica”.

Rumo à invisibilidade – De acordo com os cientistas, o artigo marca um avanço significativo nas pesquisas. Segundo John Pendry, físico teórico do Imperial College London, na Inglaterra, que desenvolveu, em 2006, a teoria para a primeira capa da invisibilidade, o material pode ter múltiplos usos. Ele poderia fazer os objetos não desaparecerem, mas dar a ilusão de que tenham outras dimensões. Seria possível, por exemplo, cobrir um avião de guerra com uma capa finíssima que o fizesse parecer um avião de carga. “Talvez seja mais fácil fazer uma coisa parecer com outra. E isso seria tão bom quanto”, afirma o físico no artigo complementar da Science.

Capa de invisibilidade