Por que brasileiro com coronavírus passará quarentena em casa?

O primeiro paciente diagnosticado no Brasil com o novo coronavírus não ficou internado em um hospital após a confirmação do caso. O homem, de 61 anos, foi para quarentena em sua casa, em São Paulo.

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Entre os dias 9 e 21 de fevereiro, ele esteve a trabalho na região italiana da Lombardia, que vive uma explosão de casos nos últimos dias (no país europeu já foram confirmadas 11 mortes).

O brasileiro, que não teve o nome divulgado, apresentou sintomas associados à covid-19 — doença causada pelo novo vírus —, como febre, tosse seca, dor de garganta e coriza.

Ele foi atendido no hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, na noite de segunda-feira (24). Em nota, a unidade de saúde informa que o homem passou por um primeiro teste, após apresentar sintomas semelhantes aos da covid-19, e foi confirmada a infecção pelo novo coronavírus — segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) até terça-feira (25) haviam sido registrados em todo o mundo cerca de 80,2 mil casos do novo coronavírus, sendo 77,7 mil na China. Outros 33 países já foram afetados.

O hospital brasileiro afirma que, após o diagnóstico do brasileiro, a equipe do pronto atendimento seguiu com rigor todos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, OMS e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA.

Mas, afinal, por que o paciente voltou para casa?

A quarentena domiciliar está entre as medidas recomendadas pela OMS para pacientes que, como o brasileiro, estão em bom estado clínico. Segundo o hospital, não há necessidade de internação.

A previsão é de que ele permaneça em isolamento em sua residência pelos próximos 14 dias. “A equipe médica segue monitorando-o ativamente, assim como as pessoas que tiveram contato próximo com ele”, diz comunicado do hospital.

De acordo com o Ministério da Saúde, o brasileiro permanece em casa junto com a esposa — que também está em observação. A pasta informa que há 30 parentes dele sendo monitorados, em suas respectivas residências, pois participaram de um almoço em família no domingo.

O paciente de 61 anos, segundo o Ministério da Saúde, somente deverá ser levado para um hospital se seu quadro de saúde piorar nos próximos dias. Ele somente poderá ser liberado da quarentena após, no mínimo, duas semanas — caso deixe de apresentar os sintomas do vírus e os exames comprovem que está curado.

A quarentena na residência

Autoridades médicas de todo o mundo costumam seguir a orientação da OMS sobre a quarentena em casa. Em outros países com registros de coronavírus, também é comum que pacientes em situação menos grave não fiquem internados em hospitais.

Paciente com coronavírus no Brasil deu entrada no hospital na segunda-feira (24)

© Getty Images Paciente com coronavírus no Brasil deu entrada no hospital na segunda-feira (24)

“É melhor que esse isolamento seja feito em casa. No hospital, aumentam as chances de que mais pessoas entrem em contato com o paciente, podendo propagar doenças entre outras pessoas que estão em situações mais graves e com a imunidade baixa”, diz a pneumologista Patrícia Canto, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo a especialista, há também a possibilidade de que o paciente com a covid-19 contraia outras doenças em uma unidade hospitalar.

“No isolamento feito no hospital, você bloqueia o leito e o quarto. Equipes médicas e de limpeza têm que entrar com frequência. Há todo um aparato que não é necessário ser mantido em casos mais leves”, acrescenta Canto.

A quarentena em hospital é indicada somente quando se trata de paciente com riscos graves ou condições agravadas pelo comprometimento respiratório. “Esse paciente, embora tenha 61 anos, está bem. Então, a orientação é que ele seja monitorado em casa e evite deslocamento. Assim, tem menos contato com outras pessoas e diminui a possibilidade de transmissão do vírus”, pontua a pneumologista.

As situações mais complexas envolvem, por exemplo, pacientes que desenvolvem a pneumonia viral. “São casos mais graves, que podem levar à morte”, diz a médica.

Os casos mais graves da covid-19, segundo especialistas, são os mais incomuns entre os pacientes. Estudiosos acreditam que o novo coronavírus tenha matado cerca de 2% dos infectados e é menos letal que doenças que causaram surtos recentes de vírus da mesma família, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (9,5%), a Sars, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (35%), que ficou conhecida como Mers.

A quarentena em casa é também uma forma de tentar evitar que os hospitais fiquem sobrecarregados.

“Se houver um número grande de pacientes posteriormente, não vai haver leitos para todos, se os casos mais leves também envolverem internação. Temos que focar nos quadros mais graves. Se superlotar as unidades, os profissionais de saúde vão deixar de dar atenção a quem, de fato, precisa”, afirma a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo.

Richtmann ressalta que o único quadro de covid-19 sem grandes complicações que pode envolver internação é quando o paciente é um idoso com mais de 70 anos. “Nesses casos, há necessidade de internação, mesmo que não seja algo grave. Porque nessas situações, existe um potencial muito maior de evoluir para quadros mais graves”, afirma.

A vida no isolamento domiciliar

Durante o período em que permanecer em isolamento, o paciente deverá evitar receber visitas. O indicado é que ele mantenha contato pessoal somente com a esposa, única pessoa que mora na mesma casa.

“Como ela já tinha contato com ele anteriormente, então não fará diferença continuar na mesma casa. Mas ela deverá ficar em observação”, ressalta Canto.

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, confirmou primeiro caso de coronavírus no país

© Reuters Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, confirmou primeiro caso de coronavírus no país

Ao conviver com o paciente, a esposa deverá ter cuidados como usar máscara quando tiver contato direto, lavar as mãos com frequência, usar álcool em gel e não compartilhar objetos de uso pessoal — como talheres, copos e toalhas.

Outros cuidados que o paciente deverá ter, até receber alta, será evitar sair de casa — exceto para acompanhamento médico. Quando tiver que deixar a residência, terá de usar máscara cirúrgica simples. A equipe que o acompanhar deverá usar uma máscara do tipo N95, que possui alto grau de filtragem de partículas.

A previsão é de que o monitoramento do paciente seja feito por meio telefônico, sem visita domiciliar, ao menos por ora. Em caso de piora no quadro, o método deverá ser revisto.

Os cuidados

As especialistas frisam que, diante do primeiro caso de coronavírus no país, é fundamental que as pessoas tomem mais cuidados com a higiene.

“É preciso higienizar as mãos com frequência e evitar lugares aglomerados ou fechados em caso de sintomas respiratórios. Esses cuidados devem ser tomados, principalmente, por pessoas com baixa imunidade ou que estejam fazendo algum tipo de tratamento de saúde”, explica Richtmann.

Para a pneumologista Patrícia Canto, o fator climático é um ponto positivo para o Brasil e pode representar menos chances de propagação do vírus. “É verão e a maior incidência de virose respiratória acontece no inverno. Por isso, na China se espalhou rapidamente. Por ser inverno por lá, as pessoas ficam em lugares mais fechados e com pouca ventilação”, afirma a médica.

“Os lugares mais frios obrigam o uso de aquecedores em lugares fechados e não têm a mesma circulação de ar”, acrescenta Canto. Ela, porém, reforça que as pessoas precisam procurar um médico caso apresentem sintomas semelhantes aos da covid-19.

“Principalmente se a pessoa saiu do país recentemente ou se teve contato com alguém que tenha saído”, pontua a médica.

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