Polícia investiga ligação de Beira-Mar com ataques ao AfroReggae, no Rio

O encontro do dia 10 de maio entre os traficantes Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP no presídio de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, autorizado pela justiça, pode ter relação com os ataques realizados a ONG AfroReggae, no mês passado, como mostrou o Fantástico neste domingo (11).

A “reunião”, que foi gravada, recebeu o aval da justiça depois de Beira-Mar reclamar que se sentia muito sozinho em sua cela separada. Nela, a dupla comenta a prisão do pastor Marcos Pereira, acusado pelo coordenador da ONG AfroReggae, José Junior, de ter estuprado fiéis. Os dois dizem que o religioso é inocente e uma frase de Beira-Mar chamou a atenção da polícia: “Foi o Juninho que estava por trás disso. Tinha que mandar um salve lá para ele”, disse. “Salve”, segundo as investigações, seria um sinônimo de ataque ou represália.

O primeiro ataque ao AfroReggae aconteceu 16 dias após a conversa. No total, foram quatro atentados à ONG, no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, áreas pacificadas. O delegado Márcio Mendonça, da Delegacia de Combate às Drogas, responsável pelo caso, conversou com os criminosos, que negaram o atentado. Marcinho VP disse que a expressão significa “mandar um alô para que Marcos e José Junior parassem de brigar”. A polícia, no entanto, não acredita na versão.

Promotor condena permissão
André Guilherme Freitas, um dos promotores que ajudou na condenação de Marcinho VP, diz que a autorização para o bate-papo entre os bandidos foi arriscada.

“Talvez tenha se menosprezado o poder que esses dois ainda ostentam, que serve não só para eles dois, mas para vários outros presos de alta periculosidade. Se foram ordens transmitidas nesse porte, sem dúvida outras também foram, outras ainda serão. Então, esse é um grande cuidado que a gente tem que ter”, disse ele.

Para advogado de pastor, conversa é ‘prova cabal’
No diálogo dos traficantes, ambos defendem que o pastor Marcos Pereira é inocente. Eles dizem que José Júnior forjou as denúncias. Para Luis Carlos Silva Neto, advogado do religioso, a conversa é uma “prova cabal” da inocência de seu cliente.

José Júnior prestou depoimento ao delegado Márcio Mendonça nesta segunda (22) (Foto: Marcelo Elizardo/ G1)José Júnior prestou depoimento ao delegado Márcio
Mendonça no dia 22 (Foto: Marcelo Elizardo/ G1)

“As acusações contra ele são inverossímeis. Eu estou requerendo inclusive que este acusado-mor, José Júnior, seja ouvido pela justiça, que é onde ele deve ser ouvido”, disse.

O coordenador da ONG, por sua vez, se defende. “Nós fizemos denúncias sobre ele (Marcos). Uma pessoa que estuprou, que é pedófilo, que é homicida. E que há 20 anos havia uma suspeita, só que ninguém teve coragem de fazer essa denúncia. Sempre soubemos que sofreríamos retaliações”, argumentou.

 

 

G1