Passageiro de “voo pela vida”, Vinicíus contou com expertise militar para conseguir transplante em SP

Só no mês de junho, Casa Militar transportou cinco pacientes em busca de doação de órgãos em outros estados

PM de São Paulo deu apoio terrestre para transportar a família até o hospital. Foto: Arquivo Pessoal

Campo Grande (MS) – Com 17 anos de idade e muita história para contar, Vinícius é um sobrevivente. Logo na primeira infância ele apresentou os primeiros problemas de saúde, mas o diagnóstico de insuficiência renal veio tardio, aos 12 anos. Do dia que o jovem entrou na fila por um transplante até a data da cirurgia foram mais de um ano e meio de espera. E a batalha por uma nova vida só chegou ao fim com vitória graças ao apoio do Grupamento Aéreo da Casa Militar do Governo de Mato Grosso do Sul.

O telefone de Sandra, mãe de Vinícius, tocou em 19 de setembro de 2019 depois do almoço com um notícia que mudaria para sempre a vida do garoto. Do outro lado da linha, o médico explicava que  tinha acabado a espera de Vinícius por um transplante renal. A alegria foi instantânea. Mas imediatamente bateu o desespero. Em poucas horas eles tinham que viajar de Corumbá até São Paulo para garantir a cirurgia.

Nem a família do jovem e nem o município tinham condições de fazer um rápido transporte. E só depois de algumas ligações e contatos entre a equipe multidisciplinar do Hospital Universitário da UFMS, que cuidava do paciente, com a Central Estadual de Transplantes é que Vinícius conseguiu a viagem ao Estado vizinho. “Desse contato surgiu a Casa Militar. Graças aos militares conseguimos fazer a viagem a tempo. Sem essa ajuda não teria tido o transplante, que foi um sucesso”, conta Vinícius.

Chovia muito em Mato Grosso do Sul no dia em que Vinicius tinha que estar em São Paulo para fazer o transplante. Por causa do mau tempo, a viagem foi complicada para os tripulantes, que em momento algum pensaram em desistir da missão humanitária. A experiência e a capacidade técnica  da tripulação garantiram o transporte da família em segurança. “Nos dedicamos e conseguimos realizar a missão de forma segura. Hoje, o Vinicius está aqui podendo contar essa história feliz para todos”, lembra o piloto de avião nove meses depois de cumprir a operação, major Fábio Gonçalves.

Reencontro motiva continuação de trabalho por equipes da Saúde e da Casa Militar

Desde meados de 2018, quando teve início a parceria da Casa Militar com a Central de Estadual de Transplantes para viagens de transporte de pessoas e de órgãos, cerca de 30 operações foram realizadas pelos militares. “Só neste último mês de junho foram cinco pacientes transportados em Mato Grosso do Sul”, conta o porta-voz do Grupamento Aéreo da Casa Militar, tenente Alexandre Reche. “Todas para auxiliar as pessoas que necessitam, sem custo para o transplantado ou para o transporte de órgãos”, completa.

Hoje, 32 militares entre pilotos, copilotos, mecânicos e administrativos integram a equipe do Grupamento Aéreo que realiza, entre outras missões, as ações humanitárias de transporte de órgãos e de pessoas aptas para cirurgias. No Brasil, quem define a lista de transplantes é a Central Nacional de Transplante (CNT), que fica em Brasília (DF), e órgãos coletados em Mato Grosso do Sul podem ser implantados aqui ou em outros estados.

Tenente Alexandre Reche

Major Fábio Gonçalves

Coordenadora Claire Miozzo

“Uma vez um fígado retirado aqui em Mato Grosso do Sul foi para o Acre. Os militares passaram uma noite toda viajando para salvar uma vida”, recorda Claire Miozzo, coordenadora da Central Estadual de Transplantes de MS, ligada a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Na avaliação dela, um dos principais elos dessa corrente de solidariedade é a família do doador, que escolhe fazer a doação em um momento de dor e perda.

De janeiro a maio de 2020, conforme dados da SES, três corações, 15 rins e 77 córneas foram transplantados em hospitais de Mato Grosso do Sul. Outros dois corações, nove fígados 12 córneas e 20 rins foram enviados daqui para outros estados. “Esse trabalho nos motiva a avançarmos na captação de órgãos. Nossas equipes estão preparadas para atender não só pacientes do Estado, mas também de todo o Brasil. Queremos avançar para, no futuro, também termos transplante de fígado aqui, que exige mais complexidade e estrutura”, destaca o titular da pasta, Geraldo Resende.

Bruno Chaves, Subcom
Fotos: Chico Ribeiro