Oficiais com salário de R$ 22,8 mil estão entre presos em ação contra corrupção na PM de MS

Patrícia Penzin, Clayton Neves e Éser Cáceres

Entre os investigados por corrupção na Operação Oiketikus estão policiais militares de alta patente, que ocupam cargos de chefia na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e têm salários mensais de R$ 22.851,93. Realizada pela Corregedoria da PMMS e pelo Gaeco, a ação policial é mais uma ofensiva contra a chamada ‘Máfia dos Cigarreiros’.

Admilson Cristaldo Barbosa, comandante do 11º Batalhão da PMMS, em Jardim, e Luciano Espíndola da Silva, comandante da 1ª Companhia Independente da PMMS, em Bela Vista, ocupam o posto de tenente-coronel e ganham 22,8 mil reais por mês só de rendimento fixo.

Oscar Leite Ribeiro, major, é comandante da 2ª Companhia Independente da PMMS, também em Bela Vista, e tem rendimento fixo de R$ 19,8 mil.

Mesmo com os altos salários, os três estão entre os investigados que tiveram prisão decretada nesta quarta-feira (16) durante a operação. Segundo informações oficiais do Gaeco, todos são suspeitos de integrar uma “organização criminosa composta por policiais militares que atuam na facilitação do contrabando de cigarros”.

CPA-3 e ‘ótimo relacionamento’

Conhecido na tropa como ‘Chico Bento’, o tenente-coronel Admilson Cristaldo Barbosa chegou à sede da Corregedoria da PMMS encaminhado por colegas de farda. Segundo dados oficiais do Governo do Estado no Portal da Transparência, além da remuneração fixa de mais de 22 mil reais, ele recebe ganhos eventuais de R$ 2.506,60.

Tenentes-coronéis Admilson e Espíndola: formaram juntos e atuam no CPA-3 (Foto: PMMS)
Tenentes-coronéis Admilson e Espíndola:
formaram juntos e atuam no CPA-3 (Foto: PMMS)

O tenente-coronel Luciano Espíndola da Silva recebe por mês os mesmos R$ 22.851,93 mais remunerações oficiais que, no último mês, chegaram a R$ 9.432,18, segundo o Portal da Transparência do Governo Estadual de Mato Grosso do Sul.

Já o major Oscar Leite Ribeiro tem salário fixo de R$ 19.464,15, e no último mês recebeu de remuneração eventual mais R$ 200,00. Os três oficiais comandam unidades na área do CPA-3 (Comando de Policiamento de Área 3).

Segundo informações oficiais da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, os dois tenentes-coronéis formaram juntos no Rio de Janeiro, na turma de 1997 da Academia de Polícia Militar Dom João VI, e “possuem um ótimo relacionamento”.

Em nota enviada à imprensa, o Gaeco confirmou que cumpriu 19 mandados de prisão preventiva, 1 mandado de prisão temporária e 45 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Juízo da Auditoria Militar.

‘Rota cigarreira’ 

A megaoperação contou com a participação de cerca 125 policiais militares e nove promotores de Justiça.

Os mandados tiveram como alvo residências e locais de trabalhos dos investigados, distribuídos nos municípios de Campo Grande, Dourados, Jardim, Bela Vista, Bonito, Naviraí, Maracaju, Três Lagoas, Brasilândia, Mundo Novo, Nova Andradina, Boqueirão, Japorã, Guia Lopes, Ponta Porã e Corumbá.

Todas as cidades fazem parte da chamada ‘rota cigarreira’, que integra rodovias, estradas e cabriteiras usadas para transportar cigarros produzidos no Paraguai e vendidos ilegalmente nas ruas de cidades brasileiras a preços bem menores que os oficiais, por não pagar impostos.

Dentre os policiais militares presos, estão praças e oficiais. Após a realização dos procedimentos de praxe e eventuais lavraturas de autos de prisão em flagrante pela Corregedoria da Polícia Militar, serão encaminhados ao presídio militar de Campo Grande.

Todos os mandados de busca foram cumpridos, mas um mandado de prisão preventiva permanecia em aberto até a publicação deste texto.

A operação faz alusão ao bicho cigarreiro, que são as lagartas que constroem uma estrutura com seda com o formato semelhante a um cigarro.

Máfia dos cigarreiros

Em abril deste ano, a Polícia Federal deflagrou uma operação contra o contrabando de cigarros. A ação foi batizada de “Homônimo”, e ocorreu nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo. Em Mato Grosso do Sul foram cumpridos mandados em Naviraí e Iguatemi.

Foram expedidos pela Justiça 35 mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária, 45 mandados de busca e apreensão, 32 de bloqueios de bens.

A investigação teve início em agosto de 2017, e apontou que a quadrilha sonegava mais de R$ 14 milhões em impostos e faturava R$ 2 milhões com a venda da mercadoria ilegal.

Mas a rota nunca foi abandonada. Em fevereiro deste ano, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) apreendeu carga com 700 mil maços de cigarros contrabandeados em Coxim, a 260 quilômetros de Campo Grande. A carga foi avaliada em R$ 3,5 milhões. O motorista informou que pegou o carregamento no Paraguai e levaria para a cidade de Goiânia (GO), onde receberia o pagamento pelo transporte.

Propinas para policiais

Em dezembro de 2017 no Estado, sete policiais militares foram presos por envolvimento na chamada “Máfia do Cigarro”. O esquema envolvia suposta cobrança de propina por policiais de Mato Grosso do Sul para permitir a ação contrabandistas de cigarros. Na data, o grupo era suspeito da cobrança de R$ 150 mil para a “liberação” de um caminhão com carga de cigarros contrabandeados do Paraguai.

Conforme informações extraoficiais, dão conta que os oficiais presos durante a operação seriam comandantes da PM nas cidade de Jardim e Bonito, além de um major que trabalha na cidade de Maracaju. Mais policiais suspeitos de integrarem a máfia estariam vindo de Nova Andradina.