Novas moradias melhoram as condições de vida em Furnas do Dionísio e ajudam a fixar as famílias na terra

Furnas do Dionísio, Jaraguari (MS) – A cerca de 45 quilômetros de Campo Grande e a 32 quilômetros da área urbana de Jaraguari, a comunidade remanescente de quilombolas de Furnas do Dionísio mistura a tradição rural herdada do fundador Dionísio Antônio Vieira a conquistas que melhoram as condições de vida das famílias. Uma das benfeitorias recentes mais esperadas – a construção de novas moradias, em alvenaria – foi recebida com festa pelos 82 beneficiários, seus filhos, irmãos, netos.

           Fruto de um investimento de R$ 1,1 milhão em parceria entre o Governo do Estado e o Governo Federal, as casas foram oficialmente entregues aos proprietários pelo governador André Puccinelli. Em visita à comunidade, André ainda assinou a destinação de recursos para mais casas em outra área quilombola, na Capital. “Estamos fazendo esta entrega e assinando, em conjunto com a representação da comunidade, mais 36 casas para a Chácara Buriti. É um trabalho que temos que continuar fazendo juntos”, disse André.

          O dia foi de comemoração, com almoço coletivo para toda a comunidade, preparado desde cedo, e cerimônia inaugural prestigiada por adultos e crianças, pais, alunos e professores da escola estadual local que foi reformada, autoridades e lideranças que militam em favor da comunidade negra, entre elas a coordenadora estadual de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, Raimunda Luzia de Brito, vereadores de Jaraguari, a presidente da Associação da Comunidade Remanescente de Quilombos das Furnas do Dionísio, Maria Aparecida Martins, e o presidente do Instituto Casa da Cultura Afro-brasileira, Antônio Borges dos Santos. “Toda a nossa comunidade está de parabéns”, comemorou Maria Aparecida.

 

          

         Para Antônio Borges (no alto, fazendo entrega das chaves), um dos melhores resultados do benefício é que jovens estão se fixando na comunidade em vez de se mudarem, e os que ficam podem ter a própria casa, em vez de dividir uma única moradia com toda a família.

       Casados há pouco tempo, Marcos Roberto Abadia Martins e Fabiana Santos da Silva vivem essa nova realidade. O casal já morou com as mães de ambos e foi bem acolhido, mas desejava um lugar só para os dois. “Foi tudo bem quando morei com a minha sogra, mas, antes a gente ter a casa própria, né?”, diz Fabiana, 23 anos.

        

   Fabiana, com sobrinhos: casa própria depois do casamento. Abaixo, Cleide, que já planeja fazer melhorias

 

 

         A cunhada dela, Cleide Abadia Martins, 40 anos, sete filhos, também tem casa nova. “A primeira coisa que eu quero fazer é colocar um piso, só depois eu vou me mudar”, conta, já planejando tornar a casa ainda mais confortável. A nova construção foi feita na frente da antiga moradia, que não vai ser desativada – como a família é grande, a ideia é ocupar os dois imóveis. “Meu filho mais velho, de 19 anos, já está louco pra mudar”, ela diz.

        Cleide, como a maioria dos moradores, nasceu e cresceu em Furnas, e quer investimentos que ajudem a comunidade a permanecer nessa terra, mas em condições melhores. Já moradora de uma antiga casa bem construída, a mãe dela, dona Liduvina, sogra de Fabiana, compartilha a alegria das duas por agora também terem a casa própria, e de qualidade. “Está todo mundo feliz”, diz ela, sobrinha do fundador Dionísio.

       

       A família Martins Guilherme: três gerações em festa

        Felicidade é o que Antônia Martins Guilherme e a mãe, Tereza, não escondem. Além das chaves, elas receberam a visita do próprio governador na nova casa. “A gente perdeu o pai muito cedo, fomos criados só pela mãe. Com sete anos eu comecei a trabalhar na roça, nossa vida é aqui”, disse Antônia, agradecendo por ver as condições de vida melhorando. A alegria nem é tanto por ela mesma, mas por uma das filhas, que vai ser a moradora da casa. “É isso mesmo, e só vou pra cidade porque tenho que ir ao médico, mas gosto mesmo é daqui”, confirma dona Tereza Martins Guilherme, de 81 anos.

       Mesmo para os descendentes que estão começando a vida, Furnas é um lugar bom de morar, e de onde eles não querem sair, desde que o poder público auxilie os moradores a terem condições de viver, estudar e trabalhar com dignidade.

        

      Paulo Cézar e Rosana, com a filha: mudança antecipada porque a antiga casa oferecia risco

      A administração estadual vem cumprindo este papel, na avaliação do agricultor Paulo Cézar Landes. “Já vem melhorando. A gente tem a casa, tem agora os ônibus para levar as crianças na escola – em vez da Kombi que estava caindo aos pedaços. A escola estadual também estava bem feia, ficou bem bonita reformada. Antes os alunos não queriam mais estudar lá, não”, diz ele, pai de quatro crianças pequenas que frequentam a escola municipal e que irão para a unidade do Estado a partir do 6º ano.

        Paulo Cézar, a mulher e os filhos já se mudaram para a nova casa, até antes de muitos outros beneficiários, porque as condições da antiga casa eram precárias. De madeira, o barraco já sofreu ameaça de desabamento pelo vendaval, já foi destelhado e fez a família passar momentos de medo. “Já teve vez de a gente escorar com madeira as paredes, colocar lata pra segurar no lugar das telhas. Dava medo. E este frio que fez esses dias mesmo, se a gente ainda estivesse na casa velha, eu não sei, não”, conta. A esposa Rosana, 23 anos, diz que era um sonho também do pai dela ver a família com uma nova moradia. “Ele morreu antes da gente se mudar, mas já viu a casa construída”.

       As 82 casas de Furnas do Dionísio fazem parte de um empreendimento que o secretário de Habitação e das Cidades, Carlos Marun, define como “arrojado”, dentro do programa habitacional do Governo. “Foi ordem do governador que no programa construíssemos também na área rural, nas aldeias, e ainda nas comunidades quilombolas, que totalizam 300 casas. São obras difíceis, algumas em lugares inacessíveis, onde não tinha entrado veículo. Levamos material de construção de trator”, contou o secretário. Com a entrega, já chegam a 281 as unidades concluídas; outras 19 estão em construção em Corguinho.

        Marun anunciou que as 36 casas autorizadas para a Chácara Buriti são parte de um pacote maior. “Por termos chegado até aqui na nossa meta, lançamos a segunda etapa, com mais 300 casas, fazendo justiça a uma correção histórica onde tanta gente boa viveu por tanto tempo sem teto”.

         

         Para o prefeito Vagner Gomes Vilela, que, juntamente com o deputado estadual Marcio Fernandes também prestigiou a entrega das chaves, “o governo não tem medido esforços” para auxiliar Jaraguari. “O povo cobra, muitas vezes, do prefeito. Mas precisamos de parceiros, e os parceiros estão aqui”.