Na MORENA um beijo; pra PRINCESA um desdém! Por Josyel Carvalho

Sentada e quieta, numa mistura de alegria, angústia e mágoa, aquela PRINCESA apenas acompanha a MORENA ‘da vez’ – aquele ‘tipão’ de parar o trânsito – desfilando pelas suas ruas. É bem verdade que a tal MORENA não tem mais a beleza e o glamour de outros tempos. Mas ainda é muito bonita…e agora muito Bela. E, claro, ainda desperta muita paixão e desejo; e sua conquista é comemorada com fogos, desfiles e muita bebida, como aconteceria em qualquer outro rincão. Talvez uma bebida amarga demais para a goela dos que dividirão a conta no fim da festa.

 

Mas qual o preço dessa conquista? Essa MORENA chegou apenas atraída por bonitas palavras e a certeza de amor eterno? Não! Esse amor tem um preço alto e como todo mundo sabe, é transitório. Ela se faz grande exatamente por não se apegar a parceiro único. A alegria da conquista é nobre; como nobre também deve ser o reconhecimento aos conquistadores que já estão com seus nomes cravados na história.

 

O problema maior, e daí a mágoa da PRINCESA, é que com o silenciar dos fogos, com o apagar dos flashes, com o sarar dos porres e com o fim do namoro com a MORENA, o cotidiano nu escancara as mazelas que existem apenas para a ela. Essa conta é só sua. E ao pensar nisso tudo, fica difícil não se chatear. Sua tristeza aflora ainda mais quando percebe que seus filhos choram e imploram apenas por um simples analgésico e ela não tem. E como explicar ainda, que ela não tem nem os materiais básicos para eles praticarem esporte e terem lazer? E que seu esporte principal é correr atrás de improvisos pra manter vivo um sonho que passa muito mais perto da arte de formar cidadãos do que o de formar apenas platéia para ginásios lotados.