Major PM que comandou quartel em Bela Vista ‘reinou’ no contrabando por dois anos

Major Oscar Leite Ribeiro tinha sido transferido para Ponta Porã Foto: Divulgação: Facebook
Major Oscar Leite Ribeiro tinha sido transferido para Ponta Porã Foto: Divulgação: Facebook

O major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Oscar Leite Ribeiro, um dos 21 militares presos na semana passada por envolvimento com a máfia do cigarro, chefiou a PM, em Bela Vista, fronteira com o Paraguai, por dois anos – março de 2016 a março deste ano de 2018. E, neste período, correu solto o contrabando de cigarros na região, segundo investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), braço do Ministério Público Estadual.

Dia 16 de maio, o Gaeco deflagrou a Oiketicus, operação que mandou para a cadeia 21 PMs, entre os quais tenentes-coronéis, major, sargentos e soldados, que agiam como milícias privadas contratadas por organizações criminosas ligadas ao contrabando de cigarros. A mercadoria saia de fronteira e seguia para MS e o resto do país.

A transferência do major para Bela Vista, informa o Gaeco, foi influenciada por parte da organização dos PMs que agiam pelo tráfico, note.
“Sua ida [do major para comandar o quartel de Bela Vista] para lá ocorreu a pedido e o esquema de corrupção só funcionou efetivamente em razão de sua participação”, diz relatório do Gaeco emitido à Justiça que pediu a prisão dos PMs. O oficial tinha sido transferido de Bela Vista para Ponta Porã no dia operação Oiketicus.

Na era só PMs corruptos que integravam a corporação de Bela Vista, como narra o relatório do Gaeco.

“… nos últimos 12 meses, foram vários os policiais militares honestos daquela companhia [Bela Vista] que procuraram policiais militares deste grupo especializado [Gaeco] e ainda os promotores de justiça locais [tanto os atuais quanto os anteriores] para pedir auxílio quanto ao alto índice de corrupção naquela localidade, todos muitos temerosos por suas vidas”, escreveram os promotores do Gaeco.

Os investigadores destacam, ainda, que os PMs ligados à máfia poderiam ser associados também ao tráfico de drogas.


“Dos 13 policiais citados neste Núcleo, seis atuavam sob seu comando direto [major], já que estavam lotados na 2ª Companhia do 11º Batalhão de Bela Vista. Apesar de não tratar-se de uma cidade grande (menos de 25 mil habitantes), durante o seu comando, nenhum policial foi punido, ou mesmo investigado, por envolvimento com contrabando de cigarros ou mesmo tráfico de drogas, embora isso fosse notório e de conhecimento geral”, enfatizou o Gaeco.

O Núcleo em questão, o de número 1, seria integrado, segundo a operação Oiketicus [inseto também conhecido como bicho cigarreiro], pelos tenentes-coronéis Admilson Cristaldo Barbosa e Luciano Espíndola da Silva, o major Oscar Leite Ribeiro, os sargentos Angelúcio Recalde Paniaguá, Élvio Barbosa Romeiro, Nazário da Silva e Jhodnei Aguilera, os cabos Valdson Gomes de Pinho e Roni Rios e os soldados Clodoaldo Casanova Ajala, Nestor Bogado Filho, Ivan Edemilson Cabanhe e Liberto Sebastião de Lima.

Estes policiais, todos presos na semana passada no âmbito da operação Oiketicus, tinham como missão facilitar o contrabando e proteger as organizações quando outros policiais “honestos”, segundo o Gaeco, apreendiam as cargas de cigarros.

PROPINA GORDA

Tachados como corruptos, segundo o Gaeco, os milicianos recebiam, por mês, de R$ 50 mil a R$ 100 mil “para dar proteção ao esquema de contrabando de cigarros, permitindo que os caminhões com cigarro ilegal, provenientes do Paraguai, transitassem pelos municípios de Bela Vista, Caracol, Jardim, Guia Lopes da Laguna e Bonito, sem qualquer espécie de fiscalização”.

Até agora, uma semana depois das prisões, somente Edmar Soares, ex-presidente da Associação dos Cabos e Soldados da PM, tratou a questão com a imprensa. Ele, que representado como advogado ao menos a metade dos encarcerados, disse que as investigações do Gaeco são “frágeis demais” e que vai provar isso.

As principais evidências apontando a implicação dos militares no caso foram captadas por meio de grampos telefônicos autorizados judicialmente.

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