Major diz ter denúncias de que cabo morta foi chamada para furto por PMs

O deputado estadual Major Olímpio Gomes (PDT) disse nesta quarta-feira (14) que a cabo da PM Andréia Regina Pesseghini, de 36 anos, morta com a família na semana passada, foi convidada por outros policiais militares do 18° Batalhão para participar de furtos a caixas eletrônicos. 

Cabo Andreia e o marido, o sargento da Rota Luís Marcelo Pesseghini, foram assassinados dentro de casa em uma chacina ocorrida na segunda (5). O principal suspeito apontado pela Polícia Civil é o adolescente Marcelo Pesseghini, de 13 anos. Ele é apontado como responsável por matar, além do casal de PMs, a avó, uma tia-avó, e depois cometer suicídio.

“Eu recebi de policiais da própria Zona Norte, que eu conheço, a informação de que a cabo Andréia foi convidada por colegas para participar do furto de caixas eletrônicos”, afirmou major Olímpio.

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De acordo com o deputado estadual, ele recebeu a denúncia de militares de várias unidades e diversas patentes neste fim de semana e na segunda-feira (12) relatou o fato ao coronel Rui Conegundes, comandante da Corregedoria da PM.

A suspeita de ligação de PMs com esta modalidade de crime tinha sido apresentada pelo comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar, coronel Wagner Dimas, durante uma entrevista à Rádio Bandeirantes. Entretanto, Dimas voltou atrás e disse ter se perdido durante a entrevista. Dimas disse inicialmente que a cabo ajudou nas investigações confirmando que existia envolvimento de PMs em furtos a caixas eletrônicos.

 

Segundo relato de Major Olímpio, os policiais que fizeram denúncias dizem que Andréia teria recusado a proposta de formação de quadrilha e denunciou alguns colegas ao seu superior na época, o capitão Fábio Paganotto, no início de 2012. O capitão investigou o caso, mas não chegou a nenhuma conclusão e foi transferido do 18° Batalhão para o 9° Batalhão.

Obviamente, ele foi pressionado porque não havia registro oficial da denúncia”

Major Olímpio,

deputado estadual

Para o parlamentar, o coronel Dimas voltou atrás na sua declaração na Corregedoria após ter sido pressionado pelos seus superiores. “Obviamente, ele foi pressionado porque não havia registro oficial da denúncia”, afirmou. “Ele acabou sendo destroçado administrativamente pela Secretaria de Segurança Pública [ao recuar na sua declaração]”, disse o Major Olímpio.

Segundo ele, coronel Wagner Dimas foi afastado do comando do batalhão. Oficialmente, a PM informou que o próprio Dimas foi quem solicitou afastamento por motivos médicos, mas que ele continua no comando da unidade.

 

Na época em que o cabo denunciou os colegas, o comandante do 18º Batalhão era o coronel Osni Rodrigues de Souza, que hoje está na reserva. “Não podemos desprezar nenhuma possibilidade para a elucidação da chacina de uma família de policiais, nenhuma linha de investigação”, disse o deputado.

 

Familiares

Na terça-feira (13), familiares das vítimas voltaram ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na tarde desta terça-feira (13) para prestar depoimento.

Sandra Cordeiro Feitosa da Silva, prima da cabo Andréia Pesseghini, acompanhou a mãe dela, Neusa, que foi ouvida por investigadores. Sandra voltou a dizer que a família acredita na inocência do garoto.

Ela acredita em uma outra hipótese para o crime.  “Se teve denúncia por parte da minha prima, foi vingança”, afirmou. O comandante do batalhão de Andréia chegou a declarar a uma rádio que ela colaborou com investigações sobre o envolvimento de colegas com roubo de caixas eletrônicos, mas depois voltou atrás e negou a denúncia.

Perfil das vítimas

A delegada Elizabeth Sato, diretora do DHPP, quer interrogar os colegas de trabalho das vítimas para descobrir como era a vida pessoal do casal e conhecer o perfil dos mortos.  Na segunda-feira (12), o Instituto de Criminalística de São Paulo recebeu cinco celulares, um computador e um tablet da família Pesseguini.

Crime em família SP 08/08 (Foto: Arte/G1)

Os peritos vão analisar as ligações feitas e recebidas pelos ocupantes da casa entre a noite do dia 4 e a manhã do dia 5. Já  se sabe que o celular do policial tinha duas ligações não atendidas, feitas por um oficial da Rota, que comandaria um pelotão até a região de Presidente Prudente. Ele estranhou que o sargento não apareceu no batalhão.  Dos computadores, a perícia vai verificar se Marcelo Pesseghini deixou alguma mensagem ou se apagou algum arquivo no dia em que a família inteira morreu.

Os médicos legistas já sabem a posição e a distância dos tiros que mataram as cinco pessoas. Mas ainda não concluíram qual foi a sequência das mortes.

 

Exames como a concentração de substâncias químicas podem dar essa resposta. Alguns não podem ser realizados pelos laboratórios da Polícia Científica e devem ser feitos na Universidade de São Paulo (USP). Por causa disso, os primeiros laudos sobre o local do crime e a análise dos corpos só devem sair na semana que vem.

A polícia já ouviu 21 pessoas. Nesta segunda-feira foi a vez do tio-avô do menino prestar depoimento.

 

Até agora a polícia afirma já ter certeza que depois dos crimes, Marcelo dirigiu o carro da mãe até a escola de madrugada, assistiu às aulas, voltou pra casa de carona e se matou. 

 

Também sabe que o menino tinha adoração pelo pai. Depois de uma semana fechada, a escola onde Marcelo estudava reabriu as portas e retomou as aulas.

Laudo

No sábado (10), peritos do IC relataram ao SPTV que o sargento da Rota foi morto dez horas antes das demais vítimas. A informação é baseada na análise das manchas de sangue e constará no laudo do Instituto de Criminalística que será entregue à Polícia Civil.

Exames preliminares da Polícia Civil já apontavam a sequência de mortes na residência da Rua Dom Sebastião. Primeiro teria morrido o pai do garoto, depois a mãe, a cabo Andréia Regina Bovo Pesseghini, de 36 anos, em seguida, a avó dele, Benedita de Oliveira Bovo, de 67 anos, e a tia-avó, Bernadete Oliveira da Silva, de 55 anos.

A Polícia Civil quer ouvir também duas vizinhas da família do garoto. Uma delas teria presenciado por diversas vezes Marcelo colocando e tirando o carro da garagem da casa onde ocorreram os crimes.

A outra vizinha, segundo Franco, relatou a uma emissora de televisão ter visto um carro rondando a casa da família Pesseghini. A polícia tenta ainda localizar outras duas vizinhas que teriam ouvido os tiros e outros colegas de Marcelo.

Na quinta-feira (8), um policial militar ouvido no DHPP disse que o sargento da Rota havia ensinado o filho a atirar. A testemunha disse ter presenciado uma dessas “aulas de tiro”, que ocorriam em um estande na Zona Sul da capital paulista.

O PM, que morava na mesma rua da família, também informou ao DHPP que o sargento e a mãe do jovem ensinaram o filho a dirigir automóveis e que o garoto tirava o carro da família todos os dias da garagem.

Motivação

O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo disse na quinta-feira que as investigações buscam, agora, a motivação do crime. Questionado se existe a possibilidade da participação de outra pessoa no crime, Blazeck informou que essa “não é uma questão fechada”. “Dependemos dos laudos para confirmar isso. Por enquanto, continua a versão inicial”, disse, em relação ao envolvimento apenas do garoto de 13 anos nos assassinatos.