Máfia dos ingressos: jornalista britânico oferece ajuda à Justiça do Rio

O jornalista e escritor britânico Andrew Jennings, que publicou dois livros – “Um Jogo Sujo” e “Um Jogo cada vez mais Sujo” – revelando o esquema ilegal de venda de ingressos para a Copa do Mundo no mercado paralelo internacional, pelo Grupo Match em parceira com a Fifa, já se colocou à disposição da Justiça do Rio para ajudar a reunir provas contra as empresas estrangeiras. O promotor responsável pelo caso, Marcos Kac, disse que a contribuição de Jennings pode ser importante para as investigações em andamento.

Jennings disse nesta sexta-feira (11/7) ao Jornal do Brasil que tem documentos que incriminam a Fifa e a Comissão Brasileira de Futebol (CBF) na máfia dos ingressos e que pode entregá-los ao MPE. Segundo Jennings, se a Polícia Civil e a Justiça pressionarem o diretor executivo da Match Hospitality, Raymont Whelan, vai conseguir desvendar a máfia da comercialização ilegal de entradas para o Mundial, que acontece desde o ano de 1986, segundo o britânico. Quanto a possibilidade de Ray Whelan fugir do Brasil usando alguma aeronave particular, Jennings diz que os “Blatters” (se referindo à Joseph Blatter, presidente da Fifa, e seu sobrinho, Phillip Blatter, um dos sócios do Grupo Match), vão fazer de tudo para ajudar o executivo da multinacional sair de território brasileiro antes de qualquer interrogatório.

Vazamento de informações podem ter ajudado Ray Whelan

A Polícia Civil do Rio disse nesta sexta (11) que acredita no vazamento de informação que facilitou a fuga de Ray Whelan do hotel Copacabana Palace, na Zona Sul da cidade, após sua prisão ser decretada pela Justiça, na tarde da quinta-feira (10). Whelan está envolvido com a venda ilegal dos ingressos da Copa no mercado negro internacional e foi indiciado pelos crimes de cambismo e associação criminosa. Um vídeo gravado pelos policiais mostra que Whelan abandonou a sua suíte no hotel às pressas, deixando a televisão ligada e as malas sob a cama.

O promotor Marcos Kac aconselhou a Polícia Civil a procurar a ajuda da Polícia Federal para evitar uma possível saída do executivo do país. Os policiais federais atuariam na inspeção das aeronaves particulares, já que Whelan teve o seu passaporte apreendido pela Justiça. O vídeo gravado pelos policiais da 18a. DP (Praça da Bandeira) também revela que Whelan deixou o luxuoso hotel por uma portaria usada apenas pelos funcionários, na companhia do seu advogado Fernando Fernandes. Após avaliar as imagens, a polícia também levantou a hipótese de processar Fernandes por facilitar a fuga do seu cliente.

Rumores dão conta de que uma aeronave particular, de propriedade de um diretor da Fifa, já teria partido com Ray Whelan para destino ignorado, inclusive deixado o país. A Polícia Federal e a Polícia Civil dizem desconhecer a informação.

Pelas explicações da Assessoria de Comunicação da Polícia Federal, a logística do esquema de inspeção das aeronaves é feita dentro das limitações legais e nos aeroportos oficiais. Segundo a PF, houve a inserção das informações de Raymont Whelan no seu sistema de procurados e se o executivo tentar embarcar em qualquer aeronave nos aeroportos do Rio, inclusive no Aeroporto de Jacarepaguá, de onde partem os jatos particulares, será identificado e impedido de seguir viagem. A Ascom da PF ressaltou que a diligência ativa, ou seja, a busca e captura de Whelan, é de responsabilidade da Polícia Civil, que deve manter a vigilância nos helipontos particulares.

A reportagem entrou em contato com o hotel Copacabana Palace para questionar o pagamento da estadia de Ray Whelan, se foi feito de forma particular ou por alguma empresa nacional ou estrangeira. O hotel se recusou a fornecer qualquer informação sobre o executivo da Match. “Liguem para a Match ou para a Fifa, mas o hotel não está autorizado a dar informações sobre clientes”, disse a Assessoria de Comunicação do Palace.

Ainda nesta sexta (11), o promotor Marcos Kac levantou a possibilidade das condições de fuga de Ray Whelan do hotel Copacabana Palace, serem avaliadas pelo Ministério Público Estadual. Segundo o promotor, o hotel deve ser questionado sobre a estadia de Whelan. Kac disse que, para as autoridades policiais e Justiça o hotel não poderá sonegar informações. “Senão estariam inseridos em um crime capitulado na própria Lei de Organização Criminosa”.

Justiça nega habeas corpus

O Plantão Judiciário do Rio negou nesta sexta (11) o pedido de habeas corpus ao inglês Raymond Whelan. Segundo as primeiras informações da polícia, Whelan teria saído pela porta dos fundos do hotel por volta das 15h, uma hora antes da chegada dos policiais. Dos 12 indiciados por integrar a quadrilha, o executivo inglês era um dos dois que estava em liberdade graças a um habeas corpus concedido terça-feira (8). O outro era o taxista Marcelo Pavão da Costa Carvalho, que se entregou à tarde à polícia.

Na quinta, a Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia do Ministério Público e determinou a prisão dos envolvidos na máfia dos ingressos, inclusive de Ray Whelan. A ordem de prisão foi emitida pela juíza Joana Cortes, do Juizado Especial do Torcedor. O único que não teve o pedido de prisão solicitada pelo Ministério Público foi o advogado José Massih, por ter colaborado com as investigações e já está em liberdade.

O inquérito da Operação Jules Rimet foi recebido na quarta-feira pelo Ministério Público. Doze presos, incluindo o CEO da Match Services, única autorizada pela Fifa para comercializar os tickets, Raymont Whelan, foram indiciados pelos crimes de cambismo e associação criminosa. Ontem, a polícia pediu a prisão preventiva dos detidos desde o início da operação no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O Jornal do Brasil vem acompanhando de perto o caso e publicou, em primeira mão, denúncias a respeito do esquema de venda irregular de ingressos para a Copa. Inclusive, o JB já alertava para os riscos de Ray fugir antes de ser preso.

O caso traz à tona outro, que ocorreu há dois meses e que até agora não teve desfecho: um sargento do Corpo de Bombeiros foi flagrado vendendo ingressos para a Copa mas, até agora, o inquérito está parado.

 

 

 

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Andrew Jennings