José Carlos de Oliveira Robaldo: "Descaso ao eleitor"

Na festa da democracia, dever-se-ia contar com um jogo limpo, de propostas consistentes, viáveis etc., por parte dos candidatos. Entretanto, na prática, o quadro é completamente outro. Apenas para lembrar, o eleitor, conquanto não abra mão da democracia, estava exausto com o nível baixíssimo das propagandas eleitorais realizadas no primeiro turno do pleito do dia 5 de outubro. Tais eram a pobreza e a vulgaridade da propaganda, que não se via a hora de acabá-la.

A alegria, entretanto, durou pouco. Com o 2º turno, retornou o espaço de propaganda eleitoral gratuita na imprensa pelas vias de comunicação. Se o nível deixava a desejar lá no 1º turno, a coisa no 2º turno piorou. O ruim foi promovido a péssimo! O eleitor voltou a ser bombardeado por um nível de debate vergonhoso, no qual se vê claramente que o propósito não é informar o eleitor e, sim, desinformá-lo, confundi-lo.

Aliás, o certo é que o objetivo é tentar conquistar o poder a qualquer custo, por meio do voto alienado. O fim (eleger-se, conquistar o poder) justifica os meios, no sentido maquiavélico do termo. É o famoso “vale tudo”, conhecido popularmente. Neste 2º turno, tanto a nível federal como estadual, estamos sendo bombardeados diariamente, com raríssimas exceções, por uma propaganda chula, enganosa, de causar espécie até mesmo ao Código do Consumidor. Ou talvez cause inveja ao saudoso escritor Dias Gomes – o seu “Bem Amado” que o diga. Imagine para o eleitor que está acima da média!

O espaço é utilizado não por propostas consistentes e viáveis (exequíveis). E sim, por ataques pessoais e de confronto entre pobres e ricos, entre nordestinos e não nordestinos, com ameaças de cortes de benefícios, de diminuição de arrecadação, desemprego etc., um verdadeiro terror, como se o eleitor fosse tolo. É bom lembrar que o eleitor, em grande parte, por menor que seja o seu nível de escolaridade, também pensa, também tem espírito crítico. Ele não é tolo, poucos são os que “acreditam em Papai Noel”. Com efeito, não pode ser subestimado. Mesmo porque, o(a) candidato(a) deve ou deveria ter um compromisso pedagógico com a sociedade, mais especificamente com o eleitor.

Mas, na realidade, o quadro é completamente diverso, o que mostra o desfile de bobagens, de terror! A pergunta que não quer calar é: se essa prática (metodologia) sai da cabeça do(a) candidato(a) ou da cabeça do marqueteiro (se é que sai da cabeça!). Sabe-se que, na atualidade, candidato(a) e marqueteiro, são “irmãos siameses”, com certa predominância das ideias mirabolantes do irmão marqueteiro.

Isso tudo acontece como se o marqueteiro fosse quem efetivamente irá governar. Não se pode esquecer que, na verdade, o eleitor não elege o marqueteiro, e sim, o(a) candidato(a). Aliás, a bem da verdade é que nem sequer somos consultados sobre a escolha deste ou daquele “arquiteto”.
Não há dúvida de que nesse processo, tal como está formatado, a inversão de valores é uma realidade. O marqueteiro faz o papel do ator principal, enquanto o(a) candidato(a) é o(a) coadjuvante.

E depois? Bem, depois vêm as promessas não cumpridas. Depois vem a enganação, pois quem desenhou as propostas foi o marqueteiro e não o(a) candidato(a). E como fica o eleitor, ou mais precisamente, o interesse da sociedade, da qual fazemos parte? Bem, o eleitor, como diriam os portugueses, fica “a ver navios”.  

Essa cultura do tudo ou nada deveria ser mudada pelos próprios candidatos. Mas como não acontece, o legislador deveria criar regras para pôr ordem nesse quadro, o que poderia ser por meio de alteração na legislação eleitoral ou por meio da propalada reforma política que não sai do papel. Mas como é o político que legisla, será que haveria interesse nessa mudança?

Enquanto não se muda essa cultura e não sai esse regramento, cabe ao eleitor, por meio da sua arma (voto), repudiar essa metodologia do tudo ou nada, do terror, e priorizar o(a) candidato(a) que usar melhor o seu tempo de propaganda para mostrar o que pretende e como fazer, em favor do interesse público.