Início da safra de cana começa a dar alívio aos preços de combustíveis

Após alta de preços até 5% em março, média nacional apresentou pequena queda para gasolina e etanol.

O início da safra 2014-2015 de cana-de-açúcar, no mês passado, já começa a dar alívio aos preços dos combustíveis.

Dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) apontam que a gasolina e do álcool (etanol), tanto para os distribuidores quanto para os consumidores, ficaram praticamente estáveis ou caíram nas últimas quatro semanas, após subirem até 5% em março.

Na medição nacional, feita em cerca de 8,6 mil postos espalhados pelas cinco regiões, o preço médio ao consumidor passou de R$ 2,989 entre 6 e 12 de abril para R$ 2,988 entre 27 de abril e 3 de maio (-0,03%).

Já o etanol, pelos dados coletados em 7,8 mil postos, foi de R$ 2,187 para R$ 2,169 — queda de 0,82% —, no mesmo período de comparação.

No Rio de Janeiro, cujo álcool é comprado basicamente de São Paulo e de Mato Grosso, o preço médio da gasolina em cerca de 730 postos passou de R$ 3,129 entre 30 de março e 5 de abril para R$ 3,132 entre 20 e 26 de abril, aumento de 0,09%; o etanol (em cerca de 710 postos), de R$ 2,500 para R$ 2,509, na mesma comparação, alta de 0,35%.

Custo da armazenagem influencia

A cana-de-açúcar é colhida e moída na Região Centro-Sul, que concentra a maior parte dos canaviais, entre abril e novembro; de dezembro a março, as usinas fazem o plantio da cana e reformam os canaviais. Sem produção, a oferta cai e os preços sobem.

O reflexo desta movimentação nos preços ao consumidor deve ser percebido mais claramente em dois meses, à medida que as distribuidoras recompõem seus estoques — analisa Rafael Schechtman, sócio-diretor da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), Mirian Bacchi explica que os preços são afetados pela logística.

A tendência é que, na entressafra, ocorra uma alta muito relacionada aos custos de armazenagem do combustível pelas distribuidoras que abastecem os postos.

Segundo ela, o impacto desta situação recorrente é significativo. No ano passado, a diferença entre os valores cobrados pelos distribuidores dos revendedores, do mês de preço médio mais baixo (julho) para o mês de preço médio mais alto (outubro), chegou a 25% para o álcool acrescentado à gasolina (anidro) e 17,5% para o álcool combustível (hidratado).

Temos percebido nos últimos dois anos uma estabilidade maior, embora este comportamento sazonal não tenha desaparecido. Antes, as distribuidoras procuravam vender tudo durante a safra.

Como foi autorizado que elas negociem entre si, as empresas mais descapitalizadas, que não conseguem escoar todo o estoque, passaram a revender a outras distribuidoras fora do período da safra — diz Mirian.

Produção de etanol subiu quase 20%

Segundo dados da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), a produção de cana cresceu 12,05% da safra 2012-2013 — 532,8 milhões de toneladas para 596,9 milhões — para a safra encerrada em janeiro passado. Com o preço do açúcar menos favorável no mercado internacional, as usinas aumentaram o percentual de matéria-prima para a produção de etanol, de 50,5% para 54,8%, na mesma comparação.

Somada a um aumento da produtividade no aproveitamento da cana, esta mudança fez a produção total de etanol subir 19,7%, de 21,4 bilhões de litros para 25,6 bilhões de litros.

O etanol anidro cresceu 26%, de 8,7 bilhões de litros para 11 bilhões de litros, e o etanol hidratado, 15,3%, de 12,6 bilhões de litros para 14,5 bilhões de litros.

As vendas durante a safra, ainda de acordo com a Unica, somaram 82,7% (9,1 bilhões de litros) e 86,5% (12,6 bilhões de litros), respectivamente, dos volumes totais d estes dois tipos de etanol.

O que falta, mesmo, é política para o setor. O produtor não quer investir em álcool hidratado porque o governo está segurando artificialmente o preço da gasolina, tornando um combustível que é mais limpo, renovável, menos competitivo do que um combustível fóssil, poluente, que o mundo já todo já tem consciência que é necessário abandonar — critica Schechtman, cuja projeção é que os preços do etanol ao consumidor tenham redução de cerca de 5% na média na safra 2014-2015.

O GLOBO entrou em contato com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Lubrificantes (Sindicom), o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Município do Rio de Janeiro (Sindcomb) e a Unica pedindo informações sobre o comportamento dos preços e os fatores que os estariam influenciando, mas eles não comentaram o assunto. (Jornal: O Globo)