Governadores de MS enfrentam dificuldades para fazer sucessores

Em seus 35 anos de história Mato Grosso do Sul viveu oito eleições estaduais e teve cinco governadores eleitos pelo voto direto: Wilson Barbosa Martins (1983-87 e 1995-98), Marcelo Miranda Soares (1987-90), Pedro Pedrossian (1991-94), José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT (1999-2006) e André Puccinelli (2007-10 e 2010-14). Como se pode constatar, deste grupo dois se reelegeram (Zeca e Puccinelli), mas apenas um, Wilson Martins, conseguiu fazer o sucessor, Marcelo Miranda, em 1986. E ainda assim, naquela eleição Wilson estava fora do Governo, desincompatibilizado para concorrer ao Senado. O governador era Ramez Tebet, vice de Wilson, que ocupou o cargo por menos de um ano.

 

A sina de dificuldades para fazer o sucessor em terras guaicurus começou cedo, logo no primeiro ciclo de existência administrativa do Estado, quando o governador ainda era um ente produzido pelo humor dos generais de plantão, não havia eleição e as urnas viviam fechadas para esse tipo de delegação popular. Nomeado depois de duas quarteladas no Planalto que apearam do poder Harry Amorim e Marcelo Miranda, o governador Pedro Pedrossian provou da maldição sucessória em 1982, quando lançou o então ex-prefeito de Dourados, José Elias Moreira,  apostando no seu próprio prestígio e na força descomunal da máquina. Quase levou – porém, viu seu apadrinhado “morrer” na praia, perdendo por cerca de míseros 20 mil votos para Wilson Martins.

 

Não havia o instituto da reeleição e Wilson governou até o primeiro semestre de 1986, afastando-se do cargo para concorrer ao Senado. Antes, deu posse ao vice, Ramez Tebet, mas já tinha o compromisso de lançar e apoiar a candidatura do engenheiro Marcelo Miranda. Foi a, até hoje, única vez em que o indicado de um governador para sucedê-lo obteve sucesso. Contudo, o sucessor não conseguiu repetir a proeza. Acuado pela pressão política e popular no fim de uma gestão melancólica, Marcelo Miranda não logrou viabilizar seu projeto político e o candidato apoiado pelas bases do Governo, Gandi Jamil Georges, levou em 1990 uma surra eleitoral de Pedro Pedrossian, que daquela vez voltava à Governadoria nos braços da vontade popular. Gandi era do PDT e o PMDB, partido de Marcelo, havia indicado a candidata a vice-governadora, Celina Jallad, filha de Wilson Martins.Apesar de contar com tranqüila maioria na Assembleia Legislativa e de dominar o tabuleiro da influência política e administrativa do Estado, Pedrossian chegou ao último ano de mandato, em 1994, sem ver atendida sua preferência na escolha de quem seria o abençoado para a sucessão. Não foi por falta de tentar. O primeiro a naufragar nessas tentativas foi Waldemar Justus Horn, que chefiou a Secretaria de Fazenda e a Enersul. Erro grosseiro de formulação e execução: a base política de Pedrossian chegou a engolir o nome de Horn, que exalava o perfume continuísta do “chefe” e representava a força bruta da máquina. Mas não havia um mínimo de apelo popular na solução. Horn não fora preparado adequadamente para ser assimilado pelos eleitores pedrossianistas.

 

PLANOS B E C – O “projeto Horn” mal havia sucumbido e o “Plano B”de Pedrossian entrava em ação. O chefe da Casa Civil, Leite Schimidt, não era o nome dos sonhos do “homem de Miranda”, mas teve liberdade para se articular dentro do Governo e do bloco governista para levar adiante o antigo desejo de ser governador. Schimidt andou bem menos que Horn,tropeçou na má-vontade de correligionários e, com isso, abriu caminho para a terceira e última solução: Levy Dias, o “Plano C”. O senador tinha de sobra o que faltava a Horn e Schimidt: densidade eleitoral e política para uma disputa do gênero. A escolha do vice procurou seguir o mesmo diapasão: o deputado estadual Alberto Rondon estava em alta, havia saído de uma eleição municipal com candidato a vereador mais votado na capital. A receita não funcionou. Levy esbarrou no fenômeno mítico de probidade plantado pelo concorrente Wilson Martins, que pela segunda vez frustrou o sonho de Pedrossian de fazer seu sucessor.

 

A PRIMEIRA VEZ – Em 1998, assim como ocorrera em 1990, chegou a vez de Wilson Martins provar o gosto amargo desse revés emblemático na história da sucessão estadual. O PMDB repetiu o desastre político de oito anos atrás, quando abriu mão de indicar o candidato a governador. Acomodado, embarcou na placidez do apoio que Wilson deu ao secretário de Fazenda, Ricardo Bacha, do PSDB, para lançar-se na disputa. Iria enfrentar, numa eleição pulverizada, o mito Pedro Pedrossian, a incógnita Zeca do PT e o desconhecido Heitor Pereira de Oliveira. Até que Bacha foi longe: surpreendeu ao tirar Pedrossian do páreo do segundo turno, mas caiu diante de uma novidade que surgiu com força surpreendente, o petista Zeca. Era a primeira derrota de Wilson como timoneiro da própria sucessão.

 

Zeca do PT governo oito anos com a perspectiva notória de fazer de Delcídio Amaral seu sucessor. Na primeira parte desse projeto, Zeca comandou pessoalmente a tarefa de levar Delcídio para o PT e derrubar as resistências basistas ao novo filiado, inclusive recorrendo ao prestígio de Lula para demover a direção nacional do intuito de vetar a filiação. Na segunda parte, Zeca liderou a montagem da chapa majoritária que elencou Delcídio como candidato ao Senado. Foram dois processos vitoriosos que davam ao “homem de Porto Murtinho” a certeza de consumar o projeto, fazendo de Delcídio o próximo titular da Governadoria. Zeca só não contava com dois terríveis obstáculos: o poderio político e eleitoral do principal adversário, André Puccinellim, e a renitente maldição sucessória. Dessa forma, em 2008 novamente um governador deixava de encaixar seu candidato e as urnas davam a Puccinelli uma vitória espetacular sobre Delcídio.

 

Em 2014, lá vem Delcídio novamente candidato ao Governo. E desta vez não terá um André Puccinelli à sua frente. Em  primeiro lugar, porque o governador ainda trafega na idéia de receber as bênçãos do Planalto e da direção nacional do PT para compor-se com o PT de Mato Grosso do Sul. A hipótese parece remota. Outro cenário é o fato consumado: ou o governador encontra um candidato capaz de embaçar o favoritismo do senador petista ou apresenta-se à galeria dos  governantes que fracassaram na própria sucessão.  Puccinelli ainda não tem a solução para encarar esta sina que se arraigou no Parque dos Poderes. O PMDB tem três nomes de peso, mas ainda sem oferecer a segurança necessária para fincar um sopro mais otimista para 2014.

 

A vice-governadora Simone Tebet, o ex-prefeito Nelsinho Trad e o secretário de Obras Edson Giroto formam o trio de opções peemedebistas. Fora do PMDB, só uma ainda improvável composição com o PSDB, isto se Puccinelli investir no vôo tucano e repatriar para sua base o deputado federal Reinaldo Azambuja, que tirou seu sono nas eleições municipais de 2012. A maldição sucessória, como se vê, permanece ativa e assustadora.