FIM DE SEMANA – Por Hiroshi Uyeda

O tempo disponível dos bela-vistenses na década de 60 era pouco para tamanha programação de final de semana. A memória cuida de apanhar momentos de uma longínqua época, perdidos em algum arquivo. É necessário resgatá-los para a compreensão das próximas gerações. Um deles era o costume de todo o clã se reunir para desfrutar, em família, um final de semana.

As famílias eram numerosas. Não cabiam em uma só foto. Atribuía-se culpa exclusiva ao ócio, o não ter nada para fazer. Então, porque não filhos? Dificilmente encontravam-se famílias com apenas um ou dois filhos. Muitas possuíam acima de dez. Parecia haver uma competição entre as famílias. Com sorrisos nos lábios, pose de garanhão, os pais exibiam-se, orgulhosamente, com a sua imensa prole, garantia da continuidade familiar.

Tempos bons aqueles. Embora numerosa, nada faltava.Tudo era dividido por todos. Após crescerem, os filhos encontravam os seus caminhos, Vinha o casamento e novas imensas proles se formavam. Assim acontecia em Bela Vista até bem pouco tempo. Loureiros, Escobar, Pinheiros, Lino, Medeiros, Almeida, Nabhan, Mascarenhas e tantas outras famílias numerosas estão por toda a parte, inclusive no exterior. Dificilmente, atualmente, todos se encontram na mesma oportunidade.

A beleza daquele imorredouro tempo era exatamente a possibilidade de todos se encontrarem. Poderiam ocorrer ausências, diante de algum imprevisto, mas excepcionalmente aconteciam. O normal era cumprir a longa programação. Muitas vezes o convite era apenas para um churrasco nas casas dos pais ou dos avôs. Um aceno era o suficiente para se reunirem. 

Todos já sabiam de cor e salteado os seus papeis, as providências o seu cargo. Pequenos detalhes eram resolvidos na hora, enquanto transcorria a reunião. Ninguém argumentava falta de tempo. Tinha-se tempo para jogarem conversas fora, tomarem cerveja, uísque, refrigerantes, beliscarem uma suculenta costela, tomarem tereré, jogarem truco. O almoço transcorria em ambiente de confraternização e com muita alegria. Depois, descansavam em redes, debaixo de frondosas árvores. A seguir ocorriam rodadas de canastra, lanche com bolinhos e café fumegantes. Chegava a noite e ninguém se dispunha em ir embora. 

Os encontros familiares tornarem-se raros com o passar dos anos. Cada qual hoje cuida do seu mundinho. Satisfazem-se em se encontrarem em algum restaurante com amigos e, algumas vezes com familiares ocasionalmente disponíveis. Passam algumas horas, falam do corriqueiro, de futebol, da política e se despedem. 

Os tempos são outros. Agora falta tempo, em proporção diametralmente inversa à quantidade de filhos. As famílias estão se encolhendo por força da necessidade. Os fins de semana estão cada vez mais vazios