Fim de Ano – Por Hiroshi Uyeda

Parecia ser repetição de paródia a renovação de esperanças nessa época do ano, em qualquer rincão do país, inclusive em Bela Vista, nos idos de 60.

Porém, na região de fronteira adquiria aspectos eminentemente regionais. Pouco poderia representar qualquer preocupação com os rumos das políticas governamentais, planos de Governo e posse de representantes do povo. Bela Vista encontrava-se a léguas de distância de qualquer efervescência política, não apenas geograficamente como também pelas dificuldades de comunicação. Cuiabá e Distrito Federal, este ainda no Rio de Janeiro, eram apenas referências longínquas das capitais.

Fim de ano tinha significado singular para todos os bela-vistenses. Logo após o término das festividades do Natal, as preocupações concentravam-se nos prometidosbailes no principal clube da cidade, o Belavistense. As residências superlotavam-se com a chegada dos parentes, alguns de cidades próximas e a maioria, das fazendas. Jovens estudantes já compartilhavam os primeiros dias de férias escolares e causavam alvoroço em toda a cidade. Regressavam ao seio das famílias, como cavaleiros legendários, heróis da era moderna, tez morena do sol de Copacabana, cabelos longos esvoaçantes, camisas de ban-lon, calças de nylon, tênis Alpargatas, novidades da época.

O retorno deles causava ciumeira. Estudavam em bons colégios no Rio e em Campo Grande. Suas presenças eram constantes, todas as noites, no Bar Bossa Novas, esbanjando um quê de superioridade. Mas, nos bailes, redobravam-se para se igualarem aos estudantes locais, principalmente sob o som das polcas paraguaias. 

O Clube Belavistense engalava-se. As mesas eram disputadas, principalmente as de pistas, desde a abertura da venda, com antecedência mínima de 30 dias. Não havia preferência estabelecida, independente das posições sociais. Linda prática de democracia. Isso determinava espera em longas filas, no Bar Bossa Nova. A quantidade de mesas era determinada não apenas pelo espaço físico, mas também pela quantidade de pessoas suportável pela pista, nos primeiros acordes de polca paraguaia.

Nessas ocasiões eram contratados os mais renomados conjuntos musicais da época. Muitos ainda se lembrarão da Orquestra Tabajara e do Cassino de Sevilla.

Bela Vista vivenciava um momento mágico, um mundo peculiarmente seu nos finais de ano. A renovação de esperanças por dias melhores dizia respeito a boas colheitas, à venda de gado gordo, esteios da economia e, em menor escala, aos destinos da política local, estadual ou nacional