Família de jornalista Brasileiro morto no Paraguai passa por dificuldade financeira e vive sob escolta e com medo

Medo, dificuldade financeira e busca por justiça resumem a vida da família do jornalista Léo Veras, assassinado a tiros há pouco mais de 6 meses. Eles ainda vivem na mesma casa humilde onde a execução ocorreu, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, na fronteira com o Mato Grosso do Sul.

A viúva Cinthia Veras mora com os dois filhos que teve com o jornalista, uma jovem de 15 anos e um menino de 11. Mãe e filho presenciaram a morte de Léo. Manter a rotina nesse ambiente doloroso ainda é um desafio para toda a família.

“O Léo está por todas as partes desta casa, vemos ele por todos os lugares, ele era um bom pai, muito carinhoso com as crianças e um ótimo marido. O correto seria se mudar daqui para a dor diminuir, mas não temos condições para isso, não temos condições financeiras”, disse Cinthia.

Ela conta que a situação financeira ficou bastante complicada após a morte do marido. A única fonte de renda da família era o site de notícias de Léo, que foi desativado logo após o assassinato. Cinthia o reativou há 2 meses, mas explica que, por conta do crime e da pandemia, só conta atualmente com um anunciante.

“Esse único anunciante é a renda de toda a família. Vivemos dos R$ 300 que ele nos paga e graças a uma pessoa que me ajuda com uma cesta básica todo mês. Estou à procura de trabalho. Aceito qualquer tipo de emprego digno para sustentar minha família e nos dar mais dignidade” falou.

Cinthia Veras, esposa do jornalista Léo Veras — Foto: TV Morena/Reprodução
Cinthia Veras, esposa do jornalista Léo Veras — Foto: TV Morena/Reprodução

A família também vive apreensiva com sua segurança. Em frente à casa, o governo paraguaio disponibilizou uma viatura com policiais que vigiam o local 24 horas por dia. Quando saem, a escolta vai junto. No entanto, a vigilância é apenas um alento para Cinthia e os dois adolescentes.

“Vivemos com muito medo aqui. Tem noites que não dormimos. Meu filho, que viu o pai sendo morto, é o que mais sofre. Ele não quer ficar sozinho e, geralmente, pede para dormir comigo. Qualquer movimento, qualquer barulho na rua já olhamos pela janela pensando que a história vai se repetir. Temos muito medo até de sair de casa. Minha família não merece mais isso” , lamentou a viúva.

Ela afirma que o amor pelos filhos faz com que ela tenha forças para continuar vivendo sem a presença do marido, com quem ela viveu por 17 anos.

“O Léo é o grande amor da minha vida. Ele morreu injustamente e sempre estará nos nossos corações. Estou esperando ser chamada pela Justiça do Paraguai para prestar esclarecimentos, e com isso, talvez ajudar nas investigações”, explicou.

As investigações

Um mês após o assassinato, o Ministério Público do Paraguai realizou operações de busca e apreensão para encontrar o responsável pela morte do jornalista e prendeu 10 pessoas. Segundo a polícia do Paraguai, dos presos, 6 são paraguaios, 3 brasileiros e um boliviano.

Com eles, foram encontrados dinheiro, telefones celulares e câmeras fotográficas. Os policiais ainda apreenderam 4 pistolas calibre 9 mm, 2 revólveres, 1 espingarda e munições de diferentes calibres. O MP afirma que os armamentos iriam passar por perícia, para ver se foram utilizados no assassinato do jornalista brasileiro.

Um veículo branco também foi apreendido por ter características semelhantes ao do que foi usado no dia do crime. Além dele, outros 4 carros foram confiscados pela investigação conjunta da polícia e Ministério Público.

A operação ocorreu em 19 endereços de Pedro Juan Caballero. Os investigadores mantiveram contato com as autoridades brasileiras, mas as atividades ocorreram apenas em território paraguaio.

No início de maio, Waldemar Pereira, mais conhecido como cachorrão, foi preso em Pedro Juan Caballero. Ele é suspeito de envolvimento na morte do jornalista Leo Veras.

O G1 não conseguiu respostas do Ministério Público do Paraguai para saber como estão as investigações atualmente.

A execução
Lourenço Veras, ou Léo Veras, era bastante conhecido em Mato Grosso do Sul por seu trabalho. Ele era o dono de um site policial que produzia notícias da região da fronteira em português e espanhol. Frequentemente ele noticiava situações relacionadas ao tráfico de drogas.

De acordo com a Polícia Nacional do Paraguai, Léo foi atingido por cerca de 12 tiros de pistola 9 milímetros. Um dos disparos acertou a cabeça dele no momento em que ele tentou correr dos assassinos. O jornalista chegou a ser socorrido e encaminhado para um hospital particular da cidade paraguaia, mas não resistiu.

Por – G1