Escoltado por forças militares, ministro pede prazo para dialogar com índios

Willams Araújo
 
Escoltado por policiais da Força Nacional que aterrissaram em Mato Grosso do Sul, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu prazo para dialogar com as lideranças indígenas na tentativa de convencê-los a deixar a área de conflito localizada na Fazenda Buriti, em Sidrolândia, onde invadiram como estratégia de pressão pela demarcação de terras no Estado. 
 
Há dias, um índio foi morto em confronto com policiais e outro saiu ferido nesta terça-feira. Como reação, eles se recusam a deixar a Fazenda de propriedade de Ricardo Bacha, o que pode pior a situação. 
 
A assessoria do Ministério da Justiça informou que houve acordo para suspender a reintegração de posse na fazenda Buriti. O acordo, mediado pela AGU (Advocacia Geral da União), prevê que os índios Terena pacifiquem a área.
 
A decisão favorável ao fazendeiro Ricardo Bacha foi derrubada pela Justiça Federal depois que a AGU entrou com pedido de reconsideração, levando em conta o perigo de novos confrontos em Sidrolândia.
 
Em entrevista, ao desembarcar na base área de Campo Grande, onde foi recepcionado pelo governador André Puccinelli (PMDB) e parlamentares que representam a Assembleia Legislativa e o Congresso Nacional, o ministro 
disse que a intenção é tentar o diálogo para desocupação da fazenda, invadida por índios terena. 
 
Cardozo sobrevoou a área da propriedade rural. A reintegração de posse será acompanhada por 110 integrantes da Força Nacional e 100 policiais federais.
 
“Vamos ao diálogo, vamos à conversa, sem exaltação”, disse Cardozo. Segundo o ministro, essa foi a orientação da presidente Dilma Rousseff. “Viemos aqui para dialogar e reunir forças, não é de forma violenta que se resolvem situações de conflito, pelo contrário, isso prejudica, atrapalha”.
 
O ministro disse que veio ao Estado para uma missão. “Não só auxiliar o governo do Estado naquilo que for necessário para manutenção da ordem pública, como também dialogar com as lideranças de todos os lados; conflito, violência, não gera resultado para lado nenhum”.
 
Cardozo disse que nesta quinta-feira irá reunir-se com membros do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e lideranças partidárias. “Vamos discutir os conflitos agrários de forma pacífica”.
 
NOVAS MORTES
 
Considerando a visita do ministro importante do ponto de vista político, a sessão desta quarta-feira da Assembleia  Legislativa terminou antes do previsto para que os deputados estaduais pudessem recepcioná-lo. 
 
O ministro conversou com um grupo de deputados estaduais nesta manhã, na Base Aérea de Campo Grande, e disse que veio a Mato Grosso do Sul na tentativa de “distensionar os conflitos por terras” e evitar que novas mortes ocorram devido à guerra no campo. 
 
“Ele nos disse que veio pessoalmente ao Estado, ver o problema de perto, e tentar acalmar os ânimos. Somente com tranquilidade, será possível encontrar caminhos, soluções, sempre preservando as vidas de índios e não índios”, comentou Mara Caseiro.
 
Ela também informou que o presidente da Assembleia Legislativa, Jerson Domingos (PMDB), e todos os parlamentares presentes, se colocaram à disposição para tentar encontrar uma solução pacífica, sobretudo após a morte do indígena Oziel Gabriel durante a reintegração de posse da fazenda Buriti, em Sidrolândia.
 
Além de Jerson Domingos e Mara, participaram do encontro com o ministro os deputados Zé Teixeira (DEM), Onevan de Matos (PSDB), Lauro Davi (PSB), Osvane Ramos (PTdoB), George Takimoto (PSL), Dione Hashioka (PSDB) e Lídio Lopes (sem partido).
 
Após sobrevoo na região de Sidrolândia com o governador André Puccinelli (PMDB) e da conversa com os deputados estaduais, o ministro recebeu lideranças indígenas em uma sala reservada na Base Aérea. 
 
O ministro informou que a Força Nacional vai permanecer na propriedade para garantir a segurança tanto de fazendeiros quanto de índios. 
 
Nesta quinta-feira (6), haverá uma reunião em Brasília com lideranças Terena e representantes do governo federal.