Ensaio técnico reúne de emoção de casais a curvas do caricaturista Lan

RIO — Na segunda noite da temporada de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí, neste sábado, a reunião de grandes mestres-salas e porta-bandeiras na Unidos da Porta da Pedra, a valentia da bateria da Acadêmicos de Santa Cruz e mulheres com curvas abundantes na Renascer de Jacarepaguá foram os destaques da noite. As apresentações começaram com a Porto da Pedra, que levou para a Avenida um pouco da carga de emoção que se espera do desfile oficial da escola, pela Série A, quando homenageará os casais de mestres-salas e porta-bandeiras.

Com o enredo “Majestades do samba: os defensores do meu pavilhão!”, vários casais que fizeram história participaram do ensaio. No desfile, Selminha Sorriso, da Beija-Flor, apresentará o casal da escola: José Roberto e Thais. O casal da Estação Primeira de Mangueira, Raphael e Squel, vem à frente da bateria. Enquanto Lucinha Nobre, porta-bandeira da Mocidade Independente, desfilará na comissão de frente.

— Estou ensaiando para a Mocidade e também com a comissão de frente. São cinco horas por dia, duas vezes por semana, só com a Porto da Pedra — disse Lucinha Nobre.

Uma surpresa trazida pela escola foi o coreógrafo Carlinhos de Jesus, que virá também como porta-bandeira. Isso para lembrar a história de que, nos primeiros desfiles, eram homens que carregavam o pavilhão. Chiquinho e Maria Helena, tradicional casal da Imperatriz Leopoldinense, também esteve no ensaio e desfilará com a escola.

— O fio condutor do desfile é a emoção. A Porto da Pedra vai apresentar um samba bailado. Os pavilhões serão como mantos sagrados e os defensores, verdadeiros reis e rainhas do carnaval. Existia essa necessidade de valorização dos casais, que nem sempre são privilegiados no sentido financeiro, mas que aqui na Sapucaí são majestades — disse Leandro Valente, carnavalesco da Porto da Pedra, que idealizou o enredo.

Tia Dodô assistiu à apresentação da Porto da Pedra

Em um dos momentos mais emocionantes, Tia Dodô, da Portela, uma das primeiras porta-bandeiras da história, ao 94 anos, fez questão de ir assistir ao ensaio na pista. Ela ressaltou que só desfila na Portela, mas que foi aplaudir a Porta da Pedra. Reverenciada por todos os casais, Tia Dodô beijou a bandeira da Mangueira, protagonizando um dos momentos mais emocionantes do ensaio.

Houve comoção também na passagem das crianças e adolescentes da escola de mestre-sala e porta-bandeira do Mestre Dionísio, uma das principais formadoras de casais para o carnaval.

— É um sonho ter toda a nossa história contada na avenida — disse o mestre-sala Anderson Abreu, da escola de Dionísio.

Logo em seguida, foi a vez da Santa Cruz ensaiar. Com o enredo “Do toque do criador à cidade referência saudável do Brasil — Jundiaí, uma referência nacional”, o grande destaque foi uma bateria valente e a comunidade que cantou o samba, embora não seja um dos mais cotados do carnaval.

Na Renascer, comissão de frente arrancou aplausos

A noite foi encerrada pela Renascer. E no desfile não faltaram curvas acentuadas para homenagear o caricaturista Lan, que eternizou as famosas mulatas em seu trabalho. Já na concentração, algumas delas chamavam a atenção do público e dos desfilantes, como as passistas com muito samba no pé da agremiação.

Já a modelo e professora de dança Andréa Martins, por exemplo, entrou na Sapucaí com o corpo pintado, vestindo apenas tapa-sexo e bota. Com um corpo escultural, ela causou alvoroço antes mesmo de a escola entrar na Avenida. E contou que, só para o ensaio, a pintura que trazia o símbolo da escola e uma caricatura do homenageado Lan durou mais de quatro horas para ser feita. Ela apareceu com o corpo pintado pela primeira vez na avenida em 2011, quando a Renascer desfilou no Grupo Especial.

Um outro detalhe da “fantasia” dela era uma pintura, nas costas, representando o ator Mateus Solano, o Félix da novela “Amor à vida”. Isso porque Andréa virá num setor que abrirá espaço para o público LGBT na escola. A corte gay do carnaval se apresentará junto com a agremiação, e uma das integrantes do grupo, a musa gay Andréia Bionda, com 1,87 metro de altura, também exibiu suas curvas na Renascer.

Mas quem mais arrancou aplausos da Sapucaí foi a comissão de frente da agremiação, formada apenas por mulheres gordinhas, para representar as mães baianas. Elas dançaram e encataram o público.

— Fizemos um concurso na escola. Apareceram 58 mulheres, e escolhemos 16. Não são bailarinas. São espontâneas, alegres e têm uma facilidade grande de aprender a coreografia — contou o coreógrafo Fábio Batista.

O compositor Moacyr Luz, que pela primeira vez compõe um samba-enredo, também marcou presença na escola:

— Na minha carreira, faltava isso. No meu trabalho, cada vez mais com uma identificação popular, é o fechamento de um ciclo.