Em MS, nove jornalistas foram executados em 16 anos e nenhum assassino foi preso

Graziela Rezende e Fernanda Kintschner


 

Em Mato Grosso do Sul, nove jornalistas foram executados nos últimos 16 anos e as mortes continuam impunes. Assim como investigadores e policiais que tentam elucidar crimes, a imprensa também ‘fica em cima’ de assuntos perigosos, para descobrir o erro, denunciar fatos e reproduzir a verdade. Porém, o envolvimento com tais assuntos pode ser uma ‘faca de dois gumes’, no qual o profissional se torna o alvo do que investiga e publica.

 

O caso mais recente, do jornalista e editor do Jornal da Praça, Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, conhecido como Paulo Rocaro, ocorrido em fevereiro de 2012, seria um crime de motivação política. A mando de um empresário, ele teria sido executado em Ponta Porã, a 356 quilômetros da Capital. Nesse caso, já indiciado pela polícia, Cláudio Rodrigues de Souza, o ‘meia-água’, continua foragido da Justiça.

 

Segundo as investigações, presididas pelo delegado Odorico Mesquita, a desavença maior entre a vítima e o mandante do crime ocorreu no Partido dos Trabalhadores (PT). Enquanto Cláudio queria eleger a mulher, a advogada Sudalene Alves Machado Rodrigues, à prefeitura de Ponta Porã, nas eleições de 2012, Rocaro defendia eleição de Vagner Piantoni.

 

Naquele mesmo ano e município, o dono do Jornal da Praça, também foi executado. Luiz Henrique Rodrigues Georges, conhecido como Tulu, tinha 44 anos. Ninguém foi apontado como mandante do crime e o caso continua sem solução até hoje.

 

Em novembro de 2012, outro assassinato. Eduardo Carvalho, dono do site Última Hora, o UH News, estava em frente à sua residência, em Campo Grande. Em entrevista ao Midiamax, a filha da vítima, Ana Cláudia Carvalho, disse que quase oito meses após o fato não há nenhum indício de quem tenha planejado e executado o crime.

 

Quatro anos antes, o radialista e vereador Flávio Roberto Godoy, o Ratinho, foi assassinado em Bela Vista, a 322 Km de Campo Grande. Já em 2006, o radialista Fábio Soares Barbosa, da Amambay FM, foi morto a tiros em Ponta Porã. Seu sócio, José Késsio Proença Garcia (DJ JK), morreu no mesmo ano com onze tiros, na mesma cidade fronteiriça.

 

Já em 20 de Abril de 2004, foi a vez do jornalista paraguaio Samuel Román, em Coronel Sapucaia, a 400 Km da Capital. Em nove de Junho do ano anterior, foi executado na Capital Edgar Ribeiro Pereira de Oliveira, sócio do “Na Boca do Povo”.

 

Sete anos antes, em outubro de 1997, houve a morte de Edgar Lopes Faria, radialista da FM Capital e conhecido como Escaramuça. Ele, assim como Edgar Ribeiro, eram conhecidos por denunciar esquemas de corrupção no Estado.

 

Há pouco mais de uma semana, sabendo dos profissionais que foram feridos durante as últimas manifestações no País, a ONG (Organização Não Governamental) Repórteres Sem Fronteiras emitiu um comunicado repudiando atos de violência contra cerca de 20 jornalistas.

 

Na terça-feira (25), o delegado aposentado e professor universitário Paulo Magalhães foi executado. A vítima estava em frente à escola da filha, no bairro Jardim dos Estados, quando o crime ocorreu. Magalhães não era jornalista, mas também era atuante na luta contra a corrupção e com isso publicava denúncias no site da ONG Brasil Verdade, criada por ele para publicizar os desvios.

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