CRÔNICA GUARANI: Traga a saideira!

Até outro dia, essas primeiras linhas que lhes fala, tinham dono, outras vozes e habitavam tranquilas essa área há dias improdutiva. E estariam aqui, não fosse um pequeno descuido que oportunizou minha cachorra a levar meu caderno de rascunhos e minha caneta para um passeio que não gostaram, porque os encontrei tristes e estraçalhados. Tinham um olhar que me lembrou o dos amantes chorosos das noites boêmias, após as cidades vesti-las de dia.

Até aqueles que bebem todas e ficam sem nenhuma consciência já se conscientizaram de que as ruas alugaram a lua e a repartiram em todos os postes.Toda noite é dia de lua cheia; elas perderam o cheiro de fim e banalizou-se as possibilidades. As ruas agora possuem luzes mais claras, econômicas, usam trajes menos ousados e de uma sobriedade pouco inspiradora. Seus véus transparentes deixaram suas entranhas à mostra.

Mas, os copos cheios de inspiração não se renderam aos holofotes; escondem o silêncio e buscam qualquer pedaço de penumbra para rasquear um violão, brindar umas doses com a alma e guardar os becos da noite recém revelados. Pelos corredores da noite, em meio a fumaças de cigarros, ainda desfilam corpos faltando vestido, guiados por pernas que levam qualquer um a caminhos que mais lhes interessar.

Ah…boêmia, a noite soluça tantos olhares, mas parece adormecer tristezas. Os abraços desconhecidos, muitas vezes, constroem histórias e personagens que, não raramente, acabam virando modas nas bocas dos violeiros; principalmente quando os tons da luz e do violão choram as mesmas angústias e sofrem as mesmas dores. E assim, o boêmio continua a perambular, desviar dos feixes de luz e a buscar morada nas primeiras dobras de esquina. Traga a saideira, por favor?!

Fonte: Josyel Carvalho