CRÔNICA GUARANI: O paciente: Por Josyel Carvalho

Era uma manhã normal, dessas especializadas em formar calos cotidianos nas labutas do trabalhador. Ele caminhava tranquilo, exercitando o seu silêncio necessário para engolir sapos destemperados e empregados em seu emprego. Seus passos ainda se moviam na calçada do Hospital Psiquiátrico quando, de repente, foi derrubado por um homem nú, surgido do nada, que dizia coisas desconexas e o soqueava sem parar.

Incrédulo em meio ao susto, não conseguia reagir. Foi salvo por uma equipe médica que recolheu o paciente recém escapado. Se recompôs e perdeu a raiva quando entendeu o que acontecia. Teve dó daquele homem que o encarava com um deboche ameaçador, de quem ainda apareceria em sua vida. Mesmo dolorido, dispensou atendimento. Seguiu sua caminhada em outras calçadas.

O tempo passou. E o homem que ele achou que nunca mais encontraria, multiplicou-se, tornou-se onipresente e se personificou em boa parte do país. Logo, ganhou protagonismo nos aplicativos de trocas de mensagens, vive perambulando por todas as redes sociais e nós ainda o encontramos em qualquer bate papo de esquina.

E o pior, seu cérebro continua pelado, vomitando desconexões e gabando-se de ser um iluminado, falando de um mundo paralelo no qual ele é um morador privilegiado. E enquanto isso, aqui no mundo real, vivemos a esperança de que a qualquer momento a equipe do hospital psiquiátrico apareça e nos salve! Ele precisa de ajuda! E nós precisamos de paz!