Com receita recorde e lucro, tudo indica que o Flamengo fechará 2019 com as contas no azul

Mesmo com tantas contratações feitas na temporada, além de empréstimos bancários para acertar fluxo de caixa, diretoria rubro-negra chegou a setembro com números positivos

A extravagante fase do Flamengo dentro de campo – na liderança com folga do Campeonato Brasileiro e à espera da final da Libertadores – colocou o clube em um ciclo virtuoso na área das finanças. A diretoria elevou custos e fez pesados investimentos em jogadores, sim, mas tudo indica que conseguirá chegar ao término da temporada com as contas pagas e fôlego para iniciar o ano seguinte.

A base para análise é o balancete do terceiro trimestre de 2019, divulgado pelo clube carioca na quinta-feira, com os dados que compreendem de janeiro a setembro. Neste período, o Flamengo arrecadou R$ 652 milhões, seguramente o maior faturamento do futebol brasileiro. Apesar de não haver transparência nos dados de outros clubes, sabemos que o Palmeiras, único que compete de igual para igual no dinheiro, terminou agosto com R$ 411 milhões.
E o mais impressionante é que o Flamengo chegou ao término do terceiro trimestre de 2019 com lucro de R$ 75 milhões. Isso significa que as despesas com salários de atletas, o pagamento das parcelas de jogadores comprados, além de todos os outros custos relacionados a futebol, esportes amadores e atividades sociais, foram pagos com sobras. O Palmeiras teve R$ 33 milhões em prejuízo em agosto. Outros adversários estão em situações muito piores.

Valores previstos (em preto) só estão distantes de serem cumpridos na realidade (em vermelho) na área comercial
Em R$ milhões
260260
161161
124124
5252
109109
295295
237237
3939
Televisão
Patrocínios
Estádio
Atletas
Outros
0
50
100
150
200
250
300
350
Patrocínios
Em R$ milhões 52
Fonte: Balancete e orçamento
O blog colocou o orçamento desta temporada lado a lado com o balancete até o terceiro trimestre. Apesar de não ser a comparação ideal, pois a previsão orçamentária prevê o ano inteiro, enquanto do outro lado estão números referentes a nove meses, pelo menos o quadro mostra claramente ao torcedor quais são as fontes de receita que estão dentro do esperado – e qual, no singular, está realmente abaixo.

Direitos de transmissão podem passar a impressão de que estão abaixo do orçado, uma vez que o Flamengo conseguiu R$ 161 milhões dos R$ 260 milhões que prevê para a temporada inteira, mas há um asterisco. A mudança no fluxo de pagamento da televisão concentrou as receitas do Brasileirão no segundo semestre. Boa parte será paga apenas em dezembro, com a conclusão do campeonato, baseada na colocação de cada clube na tabela. O clube lidera a competição
No estádio, a boa fase fez com que o Flamengo alcançasse já no mês de setembro praticamente tudo o que esperava para a temporada inteira. Na casa dos R$ 100 milhões. A considerar que as bilheterias da semifinal da Libertadores, contra o Grêmio, ainda não foram contabilizadas, e que ainda haverá a participação sobre os ingressos da final contra o River Plate, o clube vai superar com folga a previsão
Entre transferências de atletas, a meta já foi batida e superada. As vendas de Paquetá (vendido em 2018, mas transferido e registrado em 2019), Uribe, Jean Lucas, Léo Duarte, Trauco e Cuellar fizeram com que o valor orçado fosse superado e chegasse a R$ 295 milhões em arrecadação bruta – antes de descontar intermediações de agentes
Apenas na área comercial o desempenho ficou aquém do pretendido. Com a saída da Caixa do futebol, cujo patrocínio rendia R$ 25 milhões, além da dificuldade generalizada na busca por patrocínios do futebol brasileiro, o Flamengo ainda está abaixo da metade do que calculava para a temporada. Nos últimos três meses do ano, terá a chance de capitalizar o sucesso de Jorge Jesus e companhia com novos patrocínios. Um novo acordo para os ombros já foi fechado

Tem motivo para precaução? Sim, tem
O Flamengo excedeu seu orçamento em uma série de receitas, no entanto também extrapolou nas despesas. Se a remuneração do futebol profissional estava prevista em R$ 239 milhões para todo o ano de 2019, faltando ainda três meses para o fim dele já foram consumidos R$ 223 milhões. A diretoria gastará mais com salários do que esperava.

O superavit mostra que salários e outros custos não chegaram a um patamar problemático. Se sobrou dinheiro na diferença entre receita e despesa, está tudo certo. Mas também precisamos lembrar que a direção fez investimentos além da conta. A provisão de R$ 100 milhões para investir em compras de direitos econômicos foi superada com Rodrigo Caio, Arrascaeta, Gerson, Pablo Mari e demais contratados.

Ainda é preciso falar na mudança no pagamento da televisão, mais uma vez, para contextualizar a necessidade por empréstimos bancários para acertar o fluxo de entradas e saídas de dinheiro. O Flamengo chegou ao término de setembro com R$ 56 milhões devidos ao banco Daycoval, dos quais mais da metade foram tomados no decorrer de 2019.

A evolução do endividamento do Flamengo em 2019
Clube pegou emprétimo bancário para cobrir fluxo de caixa e ainda fez investimentos, por isso se endividou
Em R$ milhões
455455
469469
502502
574574
Dívida
dez/18
mar/19
jun/19
set/19
425
450
475
500
525
550
575
600
jun/19
● Dívida: 502
Fonte: Balancetes

Contratações parceladas e empréstimos bancários fizeram com que a dívida rubro-negra voltasse a aumentar, depois de um longo período em que o clube manteve postura meramente pagadora. É natural que aconteça dessa maneira. Clube de futebol não precisa ter dívida zero para ser considerado saudável, desde que consiga honrar com todos os compromissos que criou, entre salários e compras de atletas.

O melhor método para compreender a gravidade, neste caso, é a classificação conforme o prazo para pagamento. Do total que o Flamengo deve, R$ 574 milhões, apenas R$ 161 milhões precisam ser pagos em menos de um ano. Como nossa referência é o balancete até setembro de 2019, curto prazo significa até setembro de 2020.

Dirigentes e torcedores rubro-negros ainda precisam considerar que há R$ 25 milhões a receber de patrocinadores e rendas de bilheterias, além de outros R$ 60 milhões em atletas que foram vendidos para o exterior e ainda não foram pagos. Como a chance de um calote partindo de Udinese, Lyon e Milan é baixa, pois são clubes financeiramente organizados, só resta esperar que o Al-Hilal mantenha compromissos em dia. Essa grana ajudará a abater a dívida de curto prazo.

O pagamento dessas dívidas deve ser facilitado por valores não orçados, como premiação e bilheterias da final da Libertadores, bem como pelo pagamento de dezembro da televisão vinculado ao Brasileiro.
Raras são as vezes em que a lógica do investimento funciona tão bem no futebol – em que dirigentes são agressivos em contratações na expectativa de que, graças aos bons resultados proporcionados por esses atletas, receitas adicionais paguem custos e investimentos. O Flamengo parece estar próximo de conquistar a proeza.

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