Brasileirão 2014 pode ter 24 times

Silvio Lancelotti
 

Sou um leitor assíduo de John Grisham e de Scott Turow e dos seus deliciosos exercícios de ficção em episódios de investigação e de júri. Na adolescência, na TV, amava o seriado “Perry Mason”, que invariavelmente encontrava uma maneira engenhosa de inocentar o seu cliente. Hoje, via canais pagos, adoro, por exemplo, “Law and Order”.

Confesso que até assisto às transmissões do STF. Em raras vezes eu perdi uma reunião em que se discutia o famigerado caso do “Mensalão”.

Autores brilhantes, filmes marcantes, debates interessantíssimos.

Por isso, foi com piedade que acompanhei, nesta sexta, a sessão do STJD que analisou duas pendengas basilares: o recurso da Portuguesa, que pretendia a reforma do voto que a rebaixou à Série B em razão da escalação irregular do atleta Héverton; a solicitação do Vasco, que pretendia a anulação do placar adverso de 1 X 5, sofrido diante do Atlético Paranaense, na peleja que se consagrou como “Batalha de Joinville”.

Um placar que também compeliu o Vasco a desabar à Série B.

Eu ostentava pouquíssimas ilusões a respeito do desejo da Lusa. E, sobre o fato que a rebaixou à Série B, alinhavo um punhado de reflexões.

Primeiro, a Lusa padeceu pela sua própria incompetência. Independentemente de qualquer notificação oficial quanto a Héverton, lhe caberia, claro, e óbvio, conhecer na ponta do lápis o número de cartões amarelos recebidos pelo jogador. Daí, perambulou através de meia-dúzia de teses de defesa.

Segundo, o Fluminense, que caiu à Série B no gramado, pela terceira vez em duas décadas, aliás, ressuscitou no chamado “Tapetão”. Pode alegar que o ato é legal. A sua permanência na A, porém, é absolutamente imoral.

Terceiro, a CBF novamente mostrou que, na gestão Marin, inexiste.

Quarto, numa inédita exibição direta, via TV e via Internet, para todo o País, o STJD cabalmente mostrou, conforme bem observou, online, o querido colega Eduardo Marini, que não passa de uma congregação de provincianos, vaidosos, embriagados pela luz dos refletores.

Detalhe: a trupe do STJD criticou, até causticamente, a velocidade com que a Lusa viajou através da sua meia-dúzia de teses de defesa. A história do STJD, no entanto, atesta que também modifica as suas posições, ora a favor daqui, ora a favor do oposto, de acordo com o bafo de determinados clubes.

Fecho o meu raciocínio, antes de mergulhar na “Batalha de Joinville”.

Sim, sim, no mínimo pela incompetência da sua administração, a Lusa merecia uma penalidade. De todo modo, convenhamos, a mim parece toscamente desproporcional que, pela escalação irregular de um reserva, que entrou no prélio, apenas, aos 32 minutos da etapa derradeira, que atuou, portanto, em meros treze minutos, tenha desperdiçado um ano inteiro.

Daí eu acreditar que a sobrevivência do Fluminense é imoral.

O bom-senso, com letras minúsculas, pedia uma penalidade mais branda à Lusa. Um campeonato de 38 rodadas por pontos corridos, evidentemente não pode acabar decidido na 39ª, na 40ª – e eu sei lá quantas jornadas ainda se sucederão. Pois parece transparente que a Portuguesa recorrerá à Justiça Comum. E que o Brasileiro de 2014 talvez se infle para até 24 clubes.

O prolongamento da teatral reunião desta sexta exauriu até os jovens integrantes prematuros do STJD. Perdão pela expressão, minha única leitora, meu único leitor, mas assegurar o olho aberto e o cerebelo viável representou um exercício que exigiu dos tais jovens bem mais do que as minhas quase sete décadas. Podem me processar. Mas, esses caras do STJD são todos, ahn, limitados. Suas majestades em busca dos cinco minutos de fama. Mesmo opacos, arrebanharam horas de telinhas & telonas..

A bela Luciana Lopes, que defendeu a causa do Vasco, com uma veemência perigosamente exagerada, meu Deus, de vestido branquinho, aspecto generoso, discursou sobre “ponto nodal”, “fulcral”, “crucial”. O Calvin, meu cão Schnauzer, não entendeu nadinha. O bicho sonha com um simples afago no seu queixo.

Felizmente, apesar do vestido e da fogosidade da Dra. Luciana, dançaram o Vasco e os seus ostrogodos – que já haviam curtido o Natal na cadeia…

Só que vêm mais, aí, outras e outras ações na Justiça Comum…

Resta torcer: um bom 2014 ao futebol do Brasil, ahn, num ano de Copa de Mundo…