Brasil agora recebe sacoleiros do Paraguai

A maré da sorte virou para o comércio paraguaio nos últimos meses. Com a desvalorização do real e do peso argentino, o guarani é a moeda que mais preservou valor na Tríplice Fronteira. Com isso, o Paraguai não só deixou de ser financeiramente atrativo como centro de compras para seus vizinhos como passou a ser vítima do contrabando de pequeno porte.

Na fronteira com o Brasil, os “sacoleiros” brasileiros deixaram de frequentar centros de compras em Ciudad del Este, Salto del Guayrá e Pedro Juan Caballero, conforme a edição de hoje do jornal Valor Econômico. Em Assunção, a 20 km da fronteira com a Argentina, a classe média paraguaia abastece-se na pequena cidade argentina de Clorinda, de 70 mil habitantes. Na região metropolitana da capital do Paraguai vivem cerca de dois milhões de pessoas.

O comércio em Clorinda é limitado pelas restrições às importações que existem na Argentina. Não é um lugar para se comprar uísque, eletrônicos nem perfumes, como acontece na fronteira entre Brasil e Paraguai. A aduana paraguaia coíbe a entrada de itens produzidos noPaís, como hortifrutigranjeiros, carne bovina, arroz, pães, cerveja, refrigerantes e óleos vegetais. Sobra todo o resto que se vende num supermercado, de produtos de higiene e limpeza a vinho e doces. Clorinda é ainda um bom lugar onde comprar lubrificantes, botijão de gás, diesel e gasolina.

No centro de Assunção, é comum encontrar nas calçadas produtos trazidos de Clorinda, ainda com a etiqueta do supermercado argentino. Com o dólar sendo cotado a nove pesos argentinos no mercado paralelo, o botijão de gás argentino, que é subsidiado pelo governo da presidente Cristina Kirchner, sai por 15 mil guaranis (cerca de R$ 8,50). No mercado formal de Assunção, custa cinco vezes isso.

“Entrando de carro [no Paraguai], eles param na fronteira, mandam abrir o porta-malas e apreendem. Mas a gente pode estacionar em frente à ponte e cruzar a pé. Para voltar com as compras, contrata um ‘pasero’ [carregador]. Não há controle de pedestres. Você chega lá [na Argentina] com dólar ou guarani. Dá para fazer isso todo dia”, comentou um taxista que não quis dizer o nome. Ele costuma comprar produtos em Clorinda nos feriados e fins de semana, para revender no Paraguai.

O dólar estava cotado ontem a 4.424 guaranis. Em 3 de janeiro, estava em 4.293 guaranis. A desvalorização nominal foi de só 3,05%, e a inflação anual no Paraguai é da ordem de 5%. O peso argentino teve uma desvalorização oficial de 14%, passando de 4,91 para 5,6 por dólar. Mas, no câmbio paralelo, a variação foi de 38%, indo de 6,5 a 9 pesos por dólar.

Em Ciudad del Este, com 400 mil habitantes, o comércio paraguaio perde divisas para a vizinha argentina Puerto Iguazú, com população dez vezes menor. “O impacto é grande nos supermercados e nos postos de gasolina daqui. Até o comércio de Foz do Iguaçu, no Brasil, está mais atrativo para a compra do dia a dia do paraguaio. Estamos no pior dos mundos”, disse o diretor da Federação de Câmaras Empresariais (Fedecamaras) de Ciudad del Este, Juan Santamaría.

Até o presidente paraguaio, Horacio Cartes, mencionou a desconfortável situação cambial em sua primeira entrevista no cargo. Dono de uma empresa de cigarros, ele há anos é acusado de se beneficiar do comércio informal com o Brasil.
 

 


Fonte: Gabriel Kabad – Capital News (www.capitalnews.com.br)