Beme permite postar vídeos sem olhar celular: 'Continue vendo o show'

Em meio a aplicativos com todo tipo de filtros e ferramentas para melhorar ou alterar fotos e vídeos, uma startup em Nova York, nos EUA, apresentou o Beme, que vai na direção oposta: compartilha vídeos sem a opção de adicionar cores, fazer correções ou ter uma prévia. Você não vê o que está sendo compartilhado e, após quatro segundos de gravação, o material é automaticamente postado em seu perfil.

“Beme não é sobre o ato de criar. A principal filosofia do Beme, ou sua missão, é promover empatia ao compartilhar perspectivas” explica o cineasta e cofundador da empresa Casey Neistat, de 34 anos, em seu escritório extremamente equipado e decorado na avenida Broadway, no mesmo andar onde fica também a companhia.

O aplicativo funciona como uma rede social e não possui botão que ative compartilhamento de conteúdo. Basta encostar o celular no peito ou cobrir com o dedo o sensor de proximidade do celular e pronto: o app começa a capturar o vídeo. Após um som, o conteúdo é postado para os seguidores, sem chance de ver como ficou. “A razão pela qual você não pode ver o que está capturando no Beme enquanto filma é porque não é a respeito da cinematografia. Não é como você filma, é puramente para compartilhar”, pontua Neistat.

Parecido com o Snapchat, vídeos do Beme se 'autodestroem' depois de visualizados (Foto: Reprodução)Parecido com o Snapchat, vídeos do Beme se
‘autodestroem’ depois de visualizados
(Foto: Reprodução)

Com Matt Hackett, ex-vice-presidente de engenharia no Tumblr, a dupla obteve investimento de US$ 2,6 milhões de uma empresa de capital de risco, e desenvolveu a rede social em cerca de um ano.

Mais envolvidos na experiência
No vídeo em que o cineasta explica como funciona o Beme (assista abaixo, em inglês), Casey diz que a ideia de usar o sensor de proximidade era para fazer com que os usuários evitassem ficar olhando o tempo todo para a tela do celular na hora de postar alguma coisa na rede social, e estivessem mais envolvidos com a experiência em si.

“Queríamos que você mantivesse contato visual. Continuasse vendo o pôr-do-sol, continuasse vendo o show de rock, e ainda assim compartilhasse. Ser capaz de filmar sem ser forçado a encarar o celular é uma das interações mais libertadoras que já fiz”, discorre o americano no vídeo.

Cada clipe gravado tem quatro segundos, mas o usuário pode fazer quantos vídeos quiser, que são costurados em uma publicação, muito parecido com o recurso de “histórias” do Snapchat. O conteúdo é consumido ao manter o dedo na tela e, ao final, ele desaparece, não podendo ser visto novamente.

‘Be Me’
Com o mote “compartilhe vídeos, honestamente”, a proposta principal do aplicativo é mostrar diferentes perspectivas ao redor do mundo da forma mais autêntica e direta possível, assim como o próprio nome do aplicativo sugere – Beme, uma junção de termos em inglês que forma a expressão “seja eu”.

“’Como é ser bonito? Como é ser feio? Como é estar no colegial? Como é ser uma mãe? Como é sofrer bullying?’ Amo essa ideia de compartilhar com o mundo minha perspectiva e fazê-lo de forma tão passiva”, diz Casey, destacando em seguida qual a principal diferença entre o produto e outras redes sociais. “Muito das mídias sociais é sobre compartilhar como o mundo me vê. E o Beme é para compartilhar como vejo o mundo”, compara.

Sem frescura
Com design simples, inspirado no Terminal do Mac OS (painel no qual os usuários podem inserir linhas de comando, similar ao Prompt de Comando do Windows), as postagens são exibidas em células, com o nome do usuário, localização e há quanto tempo foram compartilhadas.

Muito das mídias sociais é sobre compartilhar como o mundo me vê. E o Beme é para compartilhar como eu vejo o mundo”
Casey Neistat, criador do Beme

“Queríamos funcionalidade crua. Queríamos que o aplicativo fosse como alguém segurando uma cortina preta na sua frente. Quando você segura em uma célula, a cortina abre e você está no mundo de alguém, com o conteúdo mais íntimo e rico possível: vídeo. E assim que levantar o dedo, essa cortina se fecha, e você está procurando por pessoas ao redor do mundo. Ao segurar em outra célula, você agora está na Polônia, em vez de estar na Nova Zelândia”, exemplifica.

Ele lembra que manter o design simples do aplicativo foi uma decisão consciente, mesmo que os primeiros feedbacks que tenha recebido sobre o Beme, segundo ele, tenham sido de que o aplicativo parecia quebrado ou inacabado. “Acho quase condescendente que o design do app tenha regredido para esse senso de divertido. Eles podem ter essas cores bonitinhas, mas isso não torna a experiência do usuário melhor ou mais fácil”, discorre Casey.

Do outro lado da tela, quem assiste os vídeos não tem como “curtir” as postagens, mas pode enviar “reactions” (reações) para o dono do vídeo, que são selfies que funcionam como um feedback visual para aquilo que foi filmado. Assim como os vídeos, as reações são visualizadas e apagadas em seguida.

Casey Neistat demonstra como é possível gravar vídeos no Beme, que usa o sensor de proximidade do celular para iniciar as gravações (Foto: Reprodução/YouTube/CaseyNeistat)Casey Neistat demonstra como é possível gravar vídeos no Beme, que usa o sensor de proximidade do celular para iniciar as gravações (Foto: Reprodução/YouTube/CaseyNeistat)

Divulgação no YouTube
Neistat começou a ganhar notoriedade como cineasta em 2003, ao produzir um vídeo criticando os iPods da Apple ao pichar em propagandas da empresa na rua que a bateria do dispositivo não era substituível e durava apenas 18 meses.

O americano chegou a ter filmes exibidos na 26ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo em 2004 (“Science Experiments”)  e a estrelar a própria série no canal pago HBO, chamada “The Neistat Brothers”. A partir de 2010, concentrou a maior parte de sua produção em seu canal no YouTube que passou de 1 milhão de inscritos em agosto deste ano.

Com visual minimalista, usuário visualiza vídeos ao segurar sobre as células (Foto: Reprodução)Com visual minimalista, usuário visualiza vídeos ao
segurar sobre as células (Foto: Reprodução)

Em março deste ano, Neistat começou um vlog diário em seu canal, como estratégia para manter contato com seus inscritos, falar da companhia na qual estava trabalhando (Beme, no caso) e, ainda assim, fazer um filme por dia.

O canal se tornou o principal meio de comunicar novidades a respeito do app, mesmo que Casey demore, diariamente, em média 6 horas para editar cada vlog.

“Rapidamente [o vlog] se tornou algo muito maior. E percebi que não dá para você fazer um vlog diário sobre uma companhia. Mas ainda o vejo como o porta-voz do Beme – quando há novidades, prefiro compartilhá-las primeiro no vlog, depois na imprensa, em um site ou em qualquer lugar”, enfatiza o cineasta.

Oito dias após o lançamento do aplicativo para iOS, em julho deste ano, o Beme atingiu a marca de 1,1 milhão de vídeos compartilhados e mais de 2,4 milhões de reações em fotos, segundo seu criador, que já prepara uma versão para Android.

O número de usuários, no entanto, não foi revelado. “O Beme está em um ótimo lugar agora. Não só em novos usuários todos os dias, mas estamos vendo pessoas usando diariamente, e essas são as métricas nas quais estamos focados.”

Sem pressa
Sobre como ganhar dinheiro com a rede social, ele assegura que não tem pressa em pensar em monetização. “O Twitter não deu dinheiro por anos, Instagram ainda não dá dinheiro. É preciso construir a plataforma primeiro e entender como as pessoas a usam, e esse é nosso foco exclusivo. Penso que todas as plataformas sociais são definidas por seus usuários.”

Curiosamente, ao fim da entrevista sobre o aplicativo que tenta fazer com que as preocupações estéticas fiquem em segundo plano, Casey fez um pedido curioso quando perguntado a respeito de tirar uma foto para a reportagem. “Sim, mas só se eu mesmo tirar. É uma foto que ficará para sempre na internet, quero ter certeza de que ficará boa.”

Fonte: G1