Atrelado ao fracasso", por Ruben Figueiró

Mercosul e União Europeia (UE) nunca estiveram tão próximos de concluir um
acordo de livre-comércio”, afirmou a presidente Dilma Rousseff ao sair da
7ª Cúpula Brasil-União Europeia, em Bruxelas, num otimismo para “inglês
ver”. Confesso que fiquei descrente e até decepcionado.



Essa negociação se arrasta há 14 anos e ainda há muita água pra rolar
debaixo da ponte. A grande notícia que deixou nossa presidente animada é a
de que no dia 21 de março haverá uma reunião entre técnicos do Brasil e da
UE para tentar alinhavar propostas dos dois blocos e acelerar as
discussões. Sublinho o “tentar” e o “discussões” para destacar o porquê da
minha descrença, a qual reforço afirmando que antigas “sensiblidades” em
alguns setores podem prejudicar a provável costura de um acordo – como
disse o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.



Entendo que o melhor seria a assinatura de um acordo bilateral apenas entre
o Brasil e a União Europeia. Somos parceiros estratégico desde 2007. Cerca
de 20% do que exportamos e importamos é com a UE.



O motivo da minha decepção é a insistência de o Brasil andar atrelado aos
países do Mercosul. Alguns dos quais têm dado provas concretas ao mundo de
que estão optando por políticas econômicas e sociais equivocadíssimas,
fadadas ao fracasso. Fico me perguntando: É com essa turma mesmo que
precisamos andar?



Há tempos o Mercosul têm demonstrado que a união de Brasil, Argentina,
Paraguai, Uruguai, e agora Venezuela, já não funciona. Na verdade estamos
ligados politicamente em um bloco fechado com barreiras e regras
protecionistas entre si.



Infelizmente o Mercosul virou uma ferramenta para engessar a capacidade
brasileira de realizar acordos externos. Parece que estamos marcando o
passo ao manter essa aliança, que está mais preocupada com o viés
ideológico que com, de fato, a integração econômica, social e cultural
entre os países-membros.



Especialmente Argentina e Venezuela têm “manchado” a nossa imagem junto aos
organismos internacionais. Crise cambial, inflação altíssima, beirando à
hiperinflação, desabastecimento, altos índices de violência, insatisfação
popular, repressão brutal a manifestantes, para citar alguns problemas.



Já disse outras vezes e repito: o Brasil deve sair do Mercosul.
Presenciamos hoje um desequilíbrio político dentro do bloco. É só citar a
mais nova integrante: a Venezuela. Aquele país não acredita no
livre-comércio, prega o fim do capitalismo e tem passado por toda essa
turbulência política, com o triste saldo de alguns manifestantes mortos.



E o que o Mercosul faz?  Demonstra em nota oficial que é refém da ideologia
bolivariana. Apoia o governo que reprime, prende e tortura, em vez de
condenar a violência e exigir o respeito ao direito democrático de
protestar.



Faço coro ao senador Jarbas Vasconcelos, por quem tenho grande admiração,
que afirmou que o governo do PT prejudicou a boa imagem da diplomacia
brasileira, fazendo com que o país vire um mero coadjuvante no continente,
aceitando tudo o que fazem os governos da Venezuela, Equador, Bolívia e
Argentina.



A saída do Mercosul, na minha opinião, seria uma forma de o Brasil
demonstrar independência, coragem e atitude para agir de uma maneira mais
soberana e fiel aos princípios basilares da Constituição. Seria uma decisão
de governo coerente com os interesses econômicos do país que deseja
liberdade de comércio exterior, sem peias, neste mundo globalizado.





**Ruben Figueiró é senador pelo PSDB-MS*

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