Andrés Sanchez: "Evitamos perdas de R$ 100 milhões" (em superfaturamento)

Andrés Sanchez concedeu entrevista ao LANCE!Net alguns minutos antes do acidente que matou dois operários na Arena Corinthians, na tarde do último dia 27 de novembro. Nesta sexta-feira, exatamente um mês após a tragédia que adiará a entrega do palco de abertura da Copa 2014, o L!Net traz a primeira parte da conversa com o ex-presidente alvinegro, concedida a cerca de cem metros do local onde cairia o guindaste.

Por cerca de 40 minutos, Andrés falou sobre bastidores da arena e disse que precisou brigar para evitar que parte das obras fossem superfaturadas.

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O jogo de abertura terá Corinthians x Corinthians? Essa é minha ideia, mas quem definirá isso é a diretoria.

O torcedor está assustado com o preço de ingresso que está sendo cobrado pelo país…(Interrompendo) Isso é hipocrisia. Qual preço de ingresso? O preço médio não passa de R$ 50. Tem quem paga 2 mil, mas tem 50, com meia-entrada a 25 e sócio-torcedor tem 40% de desconto. Aqui, 40% ou 45% do estádio terá preço popular, R$ 40 para baixo…

Palmeiras e WTorre têm prolemas de relação, como Grêmio e OAS. Existe alguma chance de ter alguma surpresa ou algum erro no contrato com a Odebrecht? Não. Não existe possibilidade. Erro pode haver, mas nada judicial. Corinthians e Odebrecht é um case, uma parceria para se estudar e repetir na vida pública.

O estádio não ficará “na mão” da Odebrecht? O estádio é 100% do clube. Tem o fundo imobiliário, que a Odebrecht é detentora, mas conforme as prestações forem pagas, as ações vão para o Corinthians. Quem vai administrar é o clube.

Enquanto o fundo for administrado pela Odebrecht, a arena será administrada pela Odebrecht, não? É óbvio que até o Corinthians pagar, esse fundo que é específico para o estádio, só para ele, mais nada, é o detentor. Mas quem administra e quem contrata, é o clube. Fora isso, vai ter um Conselho, com duas pessoas do Corinthians, uma pessoa da Caixa e outra da Odebrecht, até o pagamento do financiamento.

Arena poderá receber eventos? Eu não quero que use o gramado para show. O estádio tem o espaço no prédio Oeste que é para show, casamento, enterro. Gramado é futebol.

Mesmo com toda tecnologia para evitar problemas no gramado? Não tem tecnologia suficiente.

Ter ficado fora da Libertadores muda os planos do estádio? Pergunta para o presidente.

Teve produtos nacionais que caíram mais de 100%. Eu fico fico triste como brasileiro

 

Mas você é o responsável pelo estádio. A pergunta é pela renda… Você vai deixar de arrecadar com Libertadores, que é chamariz maior, mas para o estádio não tem diferença alguma. Temos que buscar essa falta de receita de outras maneiras.

E os preços dos camarotes? Está definido o mínimo, que será de R$ 400 mil/ano. E temos três mil cadeiras cativas para alugar.

Vips terão estacionamento? Depende. É que nem comprar carro: com ABS, ar, etc. Há camarotes crus e tem opcionais. Tem mais de três mil empresas cadastradas e mais de quatro mil para cadeiras.

Você teve problemas para negociar alguns produtos e serviços para o estádio, não? Dizem que o valor para compra de privadas, por exemplo, começou com 50x, mas caiu para 10x. Para a retirada dos dutos da Petrobras (que passavam pelo terreno do estádio), falava-se em R$ 30 milhões, mas saiu por bem menos… 8 milhões e 900 mil.

 

Essas negociações… (Interrompendo) Eu fico até emocionado porque isso é triste como brasileiro.

Como assim? Por um lado eu fico triste, porque eu imagino como é o resto… Ao mesmo tempo, contente porque conseguimos fazer aqui um case, um casamento tão perfeito entre o clube e a Odebrecht, que poderes públicos e empresas privadas vão estudar o que foi feito.

Onde mais se evitou perdas? Teve produtos nacionais que caíram mais de 100%.

**Com conversa? Conversa não. Com briga.

Quanto você imagina ter economizado com essas brigas? É difícil fazer esse cálculo porque a gente nunca foi… Mas foram mais de 100 milhões (de reais). Com certeza. Na briga, nas parcerias, mais de cem (milhões).

O que se ouve e se fala nessas conversas? Qual o argumento para baixar valores? É um estádio privado. Se quiser ladrilho azul, ponho azul. Se quiser branco, ponho. Quem decide é o Corinthians e a Odebrecht. Então, os dois brigaram ao máximo para colocar o melhor possível por um valor menor possível.

O Governo injetará dinheiro para finalizar os estádios? Olha… Se o estádio é privado, quem tem de injetar dinheiro é o privado. Se o estádio é público, quem tem de injetar dinheiro é o poder público. Ignorante é aquele que pensou que ia se fazer um estádio, sei lá, em Minas Gerais, que não fosse com dinheiro público. O estádio é público. No Mundo é assim, na Alemanha é assim…