Análise: valente, Del Valle domina time de Carille e complica sonhos do Corinthians na Sul-Americana

Técnico do Independiente del Valle, o espanhol Miguel Ángel Ramírez deu entrevista na véspera do duelo com o Corinthians e foi perguntado se apostaria em contra-ataques contra o Timão, numa Arena lotada e pulsante, já que não havia vencido nenhum jogo fora de casa na Sul-Americana.

A resposta foi, tal qual a postura do time na vitória por 2 a 0 contra o Timão, cheia de confiança:

– Independentemente do estádio, não entra em nosso ideal esperar, não somos de esperar ninguém. Como filosofia do clube, é ter a iniciativa sempre – afirmou o treinador, que naquele momento gerou olhares desconfiados dos jornalistas brasileiros.

O Independente del Valle foi autêntico, fez o seu jogo, foi vertical no campo do Corinthians, construiu ataques e contra-ataques eficientes, sempre usando a velocidade dos pontas Dájome, o camisa 11 endiabrado, e Sánchez. Gabriel Torres, em noite inspirada, fez os dois gols do jogo.

Para Andrés Sanchez, para os 37 mil torcedores que foram ao estádio e, provavelmente, para quem assistir aos melhores momentos da partida, foi um “show de bola” do Del Valle no Corinthians.

– Fomos valentes em mais uma noite – disse o técnico espanhol, após o triunfo histórico na Arena.

Ao Corinthians, que não tem conseguido repetir padrão dentro e fora de casa, ser valente é obrigação no jogo de volta, em Quito, na próxima quarta-feira. Mas talvez só isso seja pouco.

Vontade não faltou

O torcedor não pode cair no clichê e reclamar de “falta de vontade”. Não se trata disso.

O Corinthians que perdeu por 2 a 0 na Arena até teve alguns lampejos de bom futebol e, mesmo perdendo, lutou até o final por um gol que pudesse facilitar as coisas no Equador.

As principais jogadas, porém, nasceram após erros forçados pelo Corinthians na marcação-pressão da saída de bola do time equatoriano – um dos poucos acertos estratégicos da comissão técnica.

Com uma ideia de jogo definida, saindo com toques do goleiro ao ponta esquerda, o Del Valle cometeu alguns vacilos – acontece frequentemente com times assim. Num dos erros, Clayson roubou, e Mateus Vital chutou na trave. Foi a melhor jogada do Corinthians na primeira etapa.Fagner, do Corinthians, levou pancada na cabeça e precisou usar proteção — Foto: Marcos Ribolli

Mas o Del Valle, no seu 4-3-3, foi amplamente superior. O time saiu na frente num gol que acabou anulado pelo VAR por um impedimento de poucos centímetros. Depois, chegou ao intervalo vencendo por 1 a 0, em jogada de infelicidade de Gabriel, que tocou bola para trás.

No segundo tempo, Carille fez boas mudanças: sacou o amarelado Gabriel e o oscilante Clayson e deixou o meio-campo com Urso e Matheus Jesus, apostando num ataque com Love e Gustagol.

Houve resposta: Vagner Love cresceu, ajudou na organização de um time que passou a ficar no 4-4-2 e algumas chances apareceram, em chutes do próprio Love e de Pedrinho. Num erro do garoto, porém, o time equatoriano puxou novo contra-ataque e levou o placar a 2 a 0.

O que vem por aí?

O Corinthians, que já havia perdido sua invencibilidade na derrota por 1 a 0 para o Fluminense no Mané Garrincha, vem num momento de baixa técnica de alguns jogadores (Urso e Clayson, por exemplo) e, mesmo nos jogos em que ficou sem perder, vinha oscilando boas e más atuações.

Carille, porém, já alertou que não fará grandes modificações táticas e nem de nomes para o jogo da volta, já que não há tempo para treinar. Como reclamou da juventude do grupo, é até possível que tente jogar com atletas mais experientes, como Boselli e Sornoza. Poderá faltar entrosamento.

Diferentemente da autenticidade e da valentia dentro ou fora de casa mostrada pelo Del Valle, que construiu suas classificações jogando em Quito, o Corinthians ainda busca uma identidade.

No Campeonato Brasileiro, luta por um título que, sejamos francos, já não parece ser alcançável. Na Sul-Americana, passou por frágeis Deportivo Lara, Montevideo Wanderers e Fluminense, sonhou com o título que parecia fácil e teve um choque de realidade diante do bom Del Valle.

Fazer três ou mais gols (ou 3 a 1, 4 a 2…) neste bom time jogando na altitude de 2.800 metros parece missão impossível. Um novo 2 a 0 que leve a decisão para os pênaltis é objetivo mais real, mas mesmo assim bastante complicado. O ano de 2019 pode se definir na próxima quarta-feira.