Análise: Seleção sobra mesmo sem empolgar e tem testes positivos, mas inconclusivos

Já são 20 jogos de Eliminatórias sem derrotas sob o comando de Tite, 100% de aproveitamento na atual edição, 17 gols de saldo em oito jogos e nove partidas seguidas no torneio sem sofrer gols dentro de casa. A seleção brasileira tem números impressionantes, ao mesmo tempo em que pratica um futebol pouco empolgante.

Mas é justo cobrar espetáculo em uma partida em que nada menos do que 13 convocados não estiveram à disposição (dez que não se apresentaram, dois que tiveram de voltar ao Zenit, da Rússia, além de Marquinhos suspenso)? Ou exigir intensidade plena num momento em que boa parte dos atletas está iniciando a temporada? Impossível excluir dessa análise também os fatores motivacionais, como o estádio vazio e o adversário enfrentado pela quarta vez no intervalo de um ano.

Mesmo nestas circunstâncias, o Brasil sobrou diante do Peru, venceu por 2 a 0 e poderia ter aplicado uma goleada se tivesse contado com maior capricho e pontaria nas conclusões.

Os diversos desfalques não fizeram a Seleção perder a sua organização tática, sobretudo defensiva, e ainda geraram oportunidades para testes. Na maior parte, eles foram positivos, mas longe de serem conclusivos.

Em busca de maior criatividade, Tite abriu mão de um ponta e escalou a equipe com dois meias. Lucas Paquetá jogava bem aberto pelo lado esquerdo, enquanto Everton Ribeiro se posicionava do lado oposto. Ambos tinham liberdade para deixar suas posições e irem para o centro, sobretudo o jogador do Flamengo, que balançou a rede pelo segundo jogo seguido e foi um dos melhores em campo.

Paquetá foi titular pelo quarto jogo consecutivo e, além de oferecer passes rápidos e boa movimentação, demonstrou muita aplicação tática e combatividade. Com cinco desarmes, ele foi quem mais recuperou bolas para a Seleção.

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A formação, que já havia funcionado no segundo tempo da vitória por 1 a 0 sobre o Chile, voltou a dar certo, mas terá de ser readaptada na próxima rodada das Eliminatórias, diante da Venezuela, quando Tite voltará a contar com Gabriel Jesus e Richarlison, mas não terá Neymar, suspenso.

Embora saia “maior” dessa data Fifa, Everton Ribeiro ainda precisa se provar na Seleção, sobretudo diante de adversários mais fortes e intensos.

Quem também ganhou pontos foram os zagueiros. Éder Militão mudou de lado de um jogo para outro, mas manteve o alto nível. Já Lucas Veríssimo nem parecia estar fazendo sua estreia com a amarelinha e mostrou que está forte na briga pela última das quatro vagas da zaga para a Copa do Catar – as outras, se nenhum imprevisto acontecer, serão de Marquinhos, Thiago Silva e Militão.

Outro a receber uma valiosa chance foi Gerson, em sua primeira vez como titular. É exagero dizer que o ex-rubro-negro desperdiçou a oportunidade, mas ele esteve abaixo do que pode produzir. O meio-campista distribuiu passes e cumpriu papel tático, mas esteve desatento em alguns lances sem a bola e perdeu uma chance de gol cara a cara no primeiro tempo.

O jogador do Olympique de Marselha se posicionou na maior parte do tempo à frente de Casemiro, num 4-1-3-2, que em alguns momentos também parecia um 4-2-4. Diferentemente de outros jogos, Danilo e Alex Sandro se soltaram mais e foram importantes na construção ofensiva – o lateral-direito, aliás, participou do lance do segundo gol, assim como já havia sido contra o Chile, quando iniciou a jogada que garantiu a vitória.

Neymar, como quase sempre, foi desequilibrante. Recuando bastante para ajudar na construção, ele amarelou um a um os defensores peruanos e foi achando espaços para servir os companheiros antes de também deixar o dele. No segundo tempo, porém, pareceu ter cansado, assim como toda a Seleção. O Peru equilibrou as ações, os erros aumentaram e o duelo foi ficando desinteressante.

Tite aproveitou, então, para novas observações. Entraram Hulk, Edenilson, Daniel Alves, Bruno Guimarães e Matheus Cunha, este último o que melhor aproveitou os minutos em campo.

Ainda tendo um turno inteiro das Eliminatórias pela frente, o Brasil já está praticamente classificado para a Copa do Catar. Daqui até lá, a torcida é para que a Seleção impressione não apenas pelos recordes e números alcançados, mas também pelo futebol apresentado.